Tributação de jatos particulares e superiates pode financiar combate às mudanças climáticas

A discussão crescente sobre a poluição gerada pela elite mais rica do mundo traz à tona uma proposta que ganha força: a tributação de jatos particulares e superiates como forma de financiar ações contra as mudanças climáticas. Estima-se que o 1% mais rico da população global seja responsável por emissões de carbono equivalentes àquelas emitidas pelos dois terços mais pobres da humanidade. Face a este cenário, várias nações começaram a considerar a implementação de impostos sobre os bilionários como uma estratégia viável para angariar fundos destinados ao combate às alterações climáticas.

Recentemente, líderes financeiros do grupo G20 aprovaram a ideia de um imposto sobre os super-ricos, que poderia arrecadar aproximadamente €230 bilhões. Contudo, debates intensos ainda permeiam essa pauta, especialmente quanto à viabilidade do plano, quem seria responsável pela sua implementação e de que forma o imposto poderia ser efetivamente cobrado desta parcela da população.

Pesquisas apresentam dados alarmantes sobre as diferenças de emissões: um levantamento revela que as compras de luxo e investimentos financeiros de apenas 12 bilionários são responsáveis por cerca de 17 milhões de toneladas de gases de efeito estufa anualmente, número equivalente ao consumo energético de 2,1 milhões de residências médias ou quatro usinas movidas a carvão. Outro estudo destaca que voos em jatos particulares liberam 10 vezes mais carbono por passageiro em comparação aos voos comerciais.

Emissões de jatos particulares na Europa cresceram 31% entre 2005 e 2019, ritmo mais acelerado que o registrado pela aviação comercial. Nesse contexto, analistas estimam que a aplicação de tarifas justas sobre esses veículos de luxo, como na Grã-Bretanha, poderia gerar até £2 bilhões extras para o combate ao crise climática. Propõem-se taxas mais altas sobre combustíveis para jatos privados, assim como sobre a utilização de superiates, podendo arrecadar valores significativos.

Organizações como a Oxfam argumentam que, além de ser uma solução lógica e de bom senso, essa abordagem não apenas arrecadaria os fundos necessários, mas também responsabilizaria os maiores poluidores. As conversas em andamento sugerem que estas medidas poderiam ser expandidas para outras jurisdições, possibilitando, por exemplo, o financiamento de tarifas de transporte ferroviário fora de horários de pico até o final de 2024 na Escócia.

O dilema é que a população em geral tem dificuldades em estimar o impacto do estilo de vida dos ricos sobre suas pegadas de carbono, o que pode afetar o apoio a políticas climáticas destinadas a tributar atividades altamente poluentes dos mais abastados. Pesquisas conduzidas em países como Dinamarca, Índia, Nigéria e Estados Unidos mostram que a maioria das pessoas superestima as emissões das classes mais pobres e subestima as dos 10% e 1% mais ricos.

E depois que essa desproporção foi revelada, muitos consideraram essa desigualdade como injusta. Na Dinamarca e nos EUA, principalmente, essa percepção gerou maior apoio a políticas mais agressivas. Entretanto, aqueles pertencentes ao estrato mais rico tendem a perceber a desigualdade com maior naturalidade, possivelmente buscando justificar suas pegadas de carbono significativamente ampliadas.

É crucial perceber que a conscientização e discussão sobre as desigualdades existentes podem gerar pressão política para abordá-las de forma adequada. À medida que essas questões ganham espaço no debate público, a expectativa é que se intensifique a demanda por soluções climáticas reais e abrangentes, que incluam não só mudanças regulamentares, mas também a transformação de hábitos dos que possuem maior responsabilização na crise climática.


Fonte: https://www.euronews.com/green/2024/09/19/common-sense-solution-how-taxes-on-yachts-and-private-jets-could-fund-climate-action

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