Através de um meticuloso trabalho de modelagem ambiental, uma nova pesquisa evidenciou os desafios enfrentados pela cadeia de suprimentos de ipê na Amazônia Paraense frente às práticas ilegais de exploração de madeira. Focando nos valiosos ipês, espécies de madeira dura de alto valor oriundas do estado do Pará, grande produtor de madeira e contencioso fronteiriço da floresta, o estudo lança luz sobre as formas pelas quais o risco de ilegalidade pode ser mapeado e quantificado em nível de espécie ao longo da cadeia de suprimento.
O trabalho se baseou em informações de licenças de exploração e licenças de Documento de Origem Florestal (DOF), em nível estadual e nacional, para estimar os riscos de ilegalidade devido a licenças de extração inválidas ou inexistentes, rendimento superestimado de ipê ou discrepâncias resultantes da ausência de entradas de madeira legal. A conclusão alarmante é que menos de um quarto de todo o ipê que entra nas cadeias de suprimentos entre 2009 e 2019 é livre de riscos. O estudo destaca estratégias diversificadas para a lavagem de madeira ilegal, evidenciando uma complexa rede que transcende geografias e escancara deficiências no sistema de rastreabilidade e aplicação de leis ambientais.
A complexidade do problema salienta que a legalidade, embora não assegure a sustentabilidade por si só, oferece uma trajetória para melhor implementação e fiscalização de regulamentações florestais. Essas descobertas são especialmente relevantes para os engenheiros e profissionais da bioeconomia, que precisam estar cientes dos riscos de legalidade em suas cadeias produtivas e do impacto mais amplo que suas atividades podem ter nas emissões de carbono e na integridade dos ecossistemas florestais.
A degradação florestal na Amazônia Brasileira, causada diretamente pela exploração madeireira, incêndios e indiretamente por fragmentação e efeitos de borda devido ao desmatamento, traz sérias consequências para a biodiversidade e emite três vezes mais carbono do que o desmatamento. No entanto, a degradação florestal tem recebido menor atenção científica e política em comparação ao desmatamento, uma lacuna que este estudo procura preencher com sua abordagem inovadora e orientada por dados.
Nesse cenário, os resultados do estudo são um chamado à ação para aprimorar a transparência e a eficácia dos sistemas de controle de produtos florestais, bem como para reforçar o compromisso com a governança eficaz na bioeconomia. Abordagens que empregam tecnologias avançadas de rastreabilidade e a integração de sistemas digitais de controle poderiam ser decisivas na identificação e minimização de práticas ilegais, exaltando a relevância do investimento contínuo em inovação e pesquisa como pilares para soluções sustentáveis e éticas no setor florestal.
Os profissionais do setor são encorajados a considerar essas descobertas e refletir sobre o papel que iniciativas de sustentabilidade, certificações e políticas de gestão responsável podem desempenhar não apenas na garantia da legalidade, mas também na promoção de práticas sustentáveis que valorizem a saúde a longo prazo dos ecossistemas da Amazônia.
Fonte: Quantifying timber illegality risk in the Brazilian forest frontier. Nature Sustainability | Volume 6 | November 2023 | 1485–1495. Este artigo está licenciado sob a Creative Commons Attribution 4.0 International License