O pirarucu (Arapaima gigas), considerado um ícone da biodiversidade amazônica, tem motivos para comemorar. Após figurar na lista de espécies em risco de extinção e ter a pesca extrativa proibida em 1996, um recente balanço revela sua recuperação impressionante na região do médio Solimões. A iniciativa de manejo sustentável implementada pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, unidade vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), surtiu efeitos significativos, permitindo um aumento de 620% na população da espécie desde o início do projeto em 1999.
Atualmente, 41 comunidades pesqueiras e 4 organizações de pescadores recebem assessoramento do instituto, que coordena a adoção de práticas de pesca responsáveis no bioma. Segundo relatos, a abundância do pirarucu nas áreas manejadas propiciou sua visibilidade até fora das zonas de reserva, reiterando o sucesso das políticas de gestão implementadas. Isso não só reforça a resilência do ecossistema, mas confere também um alívio diante da anterior pressão de extinção.
A pesca controlada e sustentável que respeita o período de defeso de dezembro a maio, é crítica para a manutenção do ciclo reprodutivo do pirarucu. Para se engajar neste modelo de manejo, é necessário submeter e ter a aprovação de um Plano de Manejo Sustentável pelo Ibama. As autorizações iniciais, denominadas ‘pesca-piloto’, são fundamentais para a continuidade e a expansão do projeto, que tem mostrado resultados não apenas ecológicos, mas econômicos para as comunidades envolvidas.
Além do crescimento em número, o tamanho médio dos pirarucus também tem apresentado aumento, passando de 1,27 metro em 1998 para 1,80 metro em média em 2022. Isso serve como um indicador adicional da saúde dos estoques ictiológicos e da eficácia do manejo de pesca.
O aspecto econômico da iniciativa é igualmente relevante. A temporada de pesca de 2023 tem uma cota autorizada de quase 15 mil peixes, correspondente a 749 toneladas e um crescimento de cerca de 15% em relação ao ano anterior. Isso representa não apenas a recuperação do pirarucu, mas também um faturamento expressivo para as comunidades pesqueiras, que em 2022 ultrapassou R$ 4,3 milhões. Importante mencionar, o diferencial de preço que as comunidades assessoradas obtiveram pelo peixe, graças às estratégias de valorização e marketing como a indicação geográfica e marcas coletivas.
Para fortalecer ainda mais essas práticas de manejo e beneficiamento do pirarucu, o MCTI fez investimentos significativos em infraestrutura, como na construção de um entreposto flutuante de pré-beneficiamento movido a energia solar.
Apesar dos desafios trazidos por eventos como as secas intensas, que afetam a navegação e aumentam custos com combustível, a resistência do pirarucu – uma espécie com capacidade de respiração aérea – e o contínuo assessoramento às comunidades pesqueiras permitem manter viva a esperança de uma convivência sustentável com a Amazônia. Este avanço se destaca como um marco em práticas de bioeconomia sustentável voltadas para a preservação e a prosperidade socioeconômica das comunidades tradicionais.