A conversão de resíduos florestais em produtos de alto valor agregado está no centro da transição da economia fóssil para uma bioeconomia circular em curso na Suécia e na Finlândia. Essa é a proposta do projeto WoodPro, que aposta em tecnologias interligadas para transformar restos de madeira descartada em insumos como 2,3-butanodiol, biopolímeros e carvão vegetal hidrotermal – também conhecido como hydrochar.
Ao combinar tecnologias avançadas de bioprocessamento com análise dinâmica de sistemas, o projeto busca não apenas viabilidade econômica, mas também a redução das emissões de gases de efeito estufa e a otimização de fluxos de nutrientes. É uma abordagem integrada que mira tanto a sustentabilidade ambiental quanto o desenvolvimento local, especialmente em áreas florestais remotas.
O foco está nos chamados resíduos florestais – como galhos, cascas e copas de árvores – que normalmente são deixados para decompor ou são queimados, liberando gases de efeito estufa. O WoodPro propõe um novo ciclo para esse material, transformando-o em insumos industriais de alto valor que podem substituir derivados do petróleo em setores como embalagens, tecidos sintéticos e compostos para a indústria automotiva.
A produção de 2,3-butanodiol destaca-se pela sua versatilidade como intermediário químico, aplicável na fabricação de polímeros. Já o hydrochar, obtido por meio de hidrotermólise, pode ser usado tanto como melhora do solo quanto como substituto do carvão mineral em processos térmicos, com potencial significativo de sequestro de carbono.
Do ponto de vista metodológico, a análise de sistemas realizada pelo projeto vai além da eficiência técnica: considera aspectos logísticos, impactos ambientais ao longo da cadeia de valor e efeitos sobre as comunidades locais. O objetivo declarado é alinhar a inovação com os princípios da circularidade e da neutralidade climática, pilares da bioeconomia no Norte da Europa.
Outro ponto relevante levantado pela pesquisa é o papel dos países nórdicos como líderes de referência nesse processo de transição. Com florestas bem manejadas e políticas públicas de longo prazo voltadas para a sustentabilidade, Suécia e Finlândia se apresentam como campo de testes para modelos que podem ser adaptados a realidades distintas em outras partes do mundo.
A experiência do WoodPro sugere, no entanto, que os resultados dependem de uma integração profunda entre ciência, indústria e planejamento territorial. O sucesso desses projetos exige não só inovação tecnológica, mas também mudanças regulatórias, investimentos em infraestrutura e envolvimento da população local para garantir cadeias de suprimento funcionais e socialmente aceitas.
O estudo enfatiza ainda que abordagens compartimentadas – tratando cadeia produtiva, impactos ambientais e valor econômico separadamente – são ineficazes frente à complexidade do desafio. A transição para uma bioeconomia circular de fato exige visão sistêmica, contínua e colaborativa, com foco em redução de impactos ambientais e não apenas em crescimento econômico linear.
Embora o artigo não especifique resultados quantitativos do balanço de carbono ou escalabilidade econômica imediata das rotas tecnológicas testadas, ele salienta que as lições aprendidas com o projeto servem de guia para outras iniciativas que pretendam mudar sua matriz produtiva biomassa-fóssil para estruturas regenerativas e integradas.
Fonte: From fossil-based to circular bioeconomy: a Swedish and Finnish pathway