O paradigma linear de produção e consumo enfrenta desafios crescentes à medida que os biomas do planeta sofrem intensa exploração econômica. É neste contexto que emergem estudos sobre alternativas viáveis e sustentáveis, como a bioeconomia do bambu nativo, uma biomassa com considerável valor econômico e baixo impacto ambiental.
A pesquisa realizada por Márcio Muniz Albano Bayma e sua equipe foca na exploração econômica do bambu da espécie Guadua spp., predominante no estado do Acre, que cobre 62% do território local. O estudo, que vislumbra as paisagens dominadas por vastos tabocais, aponta para um potencial bioeconômico superior a 5 bilhões de dólares, direcionado para setores como a indústria moveleira e de construção civil, até a geração de energia.
Com embasamento em inventários florestais e uma metodologia rigorosa, a pesquisa revela as densidades de hastes por tipologia florestal e projeta lucratividade em alinhamento com práticas sustentáveis. Os parâmetros avaliados incluem rendimento de conversão de biomassa em carvão e as proporções de uso direcionadas à indústria e energética, promovendo uma economia circular e a valoração de ativos ambientais.
A necessidade de revisão dos modelos produtivos é enfatizada, tendo em vista a ciclicidade dos processos naturais. A bioeconomia, ao agregar valor a produtos e processos biológicos, constitui-se como uma resposta econômica robusta e ecologicamente sintonizada. Esta pesquisa ratifica tal perspectiva ao evidenciar o bambu Guadua como recurso versátil e demandado internacionalmente, com aplicações que vão desde material de construção até carvão com alto poder calorífico.
Embora o potencial bioeconômico seja inquestionável, desafios logísticos persistem, especialmente associados à exploração comercial sustentável e econômica no Acre, considerando acesso e transporte. O estudo identifica as áreas com maior potencial e sugere estratégias para inteligência territorial e planejamento da exploração e transporte.
Concluindo, a pesquisa estimou o valor da oferta de bambu nativo do Acre para a indústria em 5,2 bilhões de dólares, ressaltando que são considerados apenas os valores das hastes como matéria prima ainda in natura. Tais valores devem incorporar custos adicionais de transformação para atingir o preço final de mercado. A bioeconomia do bambu apresenta-se como um segmento promissor que alia rentabilidade econômica e benefícios ambientais, desbravando caminhos para um desenvolvimento sustentável mais consciente e eficaz.
Fonte: M. M. A. Bayma et al., “Bioeconomia do bambu nativo, Guadua spp. do Acre, Amazônia, Brasil,” Revista Gestão e Secretariado (GeSec), vol. 14, no. 6, pp. 10629-10643, 2023, doi: http://doi.org/10.7769/gesec.v14i6.2396.