Em um avanço significativo no entendimento da biosfera oceânica e sua contribuição para a regulação de gás carbônico (CO2) na atmosfera, pesquisadores obtiveram uma nova estimativa da bomba de carbono biológica (BCP) dos oceanos. Com base em dados hidrográficos coletados ao longo de várias décadas, foi possível quantificar o transporte de carbono orgânico do nível superficial para as águas mesopelágicas, crucial para a dinâmica de CO2 atmosférico e, consequentemente, para o clima global.
O estudo utilizou um modelo biogeoquímico inverso para estimar a exportação total de carbono orgânico (TOC), alcançando o valor de 15.00 ± 1.12 Pg C por ano exportados a uma profundidade de 73.4 metros, com dois terços deste montante chegando a 100 metros devido à rápida remineralização da matéria orgânica na coluna superior de água. Esta exportação de carbono é crítica porque corresponde à porção que é sequestrada abaixo da zona eufótica, impactando diretamente a quantidade de carbono retida nos oceanos e sua função no ciclo do carbono global.
A análise aponta ainda que 81% do carbono orgânico sequestrado se deve ao fluxo vertical não advectivo-difusivo, principalmente através do afundamento de partículas e da migração vertical do zooplâncton. Entretanto, a exportação de carbono através de mistura e outros mecanismos de transporte de matéria dissolvida e partículas suspensas é fundamental regionalmente.
Com uma perspectiva preocupante, o estudo sugere que o aquecimento global pode intensificar o reciclo de matéria orgânica nas camadas superiores do oceano, potencialmente enfraquecendo a BCP. Este fato poderia agravar o problema do acúmulo de CO2 na atmosfera e o subsequente aquecimento global, destacando tanto a complexidade do sistema climático quanto a fragilidade do equilíbrio de seus mecanismos naturais de regulação.
O entendimento do ciclo do carbono é um tema de fundamental importância para a compreensão das mudanças climáticas. Tradicionalmente, a fotossíntese tem sido o principal processo de sequestro de carbono. Enquanto o planeta testemunha um aumento exponencial na concentração atmosférica de CO2 devido às atividades humanas como a queima de combustíveis fósseis e desmatamento, o estudo apresenta a BCP como um componente essencial, e talvez subestimado, no balanço global de carbono.
Este papel dos oceanos em armazenar carbono por períodos extensos no fundo marinho, essencial para o equilíbrio do clima terrestre, tem implicações diretas para o desenho de políticas de mitigações climáticas. Diante desses dados, os modelos de mudanças climáticas podem ser aprimorados, possibilidades de estimulação dessa bomba de carbono podem ser exploradas e a preocupação com os efeitos do aquecimento global neste sistema se torna mais evidente.
A contribuição dessa investigação se estende para além do acadêmico e entra no campo das políticas públicas, estratégias de engajamento de profissionais do setor de bioeconomia e debates éticos sobre intervenções humanas na natureza. É um chamado para a ação imediata no combate às mudanças climáticas, ressaltando a necessidade imperativa de transição para fontes de energia limpa e sustentável, com o objetivo de proteger e potencialmente ampliar os mecanismos naturais de sequestro de carbono.
O conhecimento gerado por essa pesquisa lança luz sobre nuances da dinâmica marinha, convocando engenheiros e profissionais da bioeconomia a considerarem a complexidade e importância das funções oceânicas na regulação climática. A ciência e a inovação se entrelaçam aqui, delineando novas fronteiras para a pesquisa e aplicações práticas em prol de um futuro sustentável para a humanidade e o planeta.
Fonte: Wang, W.-L. et al. Biological carbon pump estimate based on multidecadal hydrographic data. Nature 624, 579–585 (2023).