Em um avanço significativo para a restauração florestal, pesquisadores brasileiros desenvolveram uma nova metodologia que projetou o crescimento de espécies de árvores nativas da Mata Atlântica, otimizando seu tempo até a maturidade para o abastecimento da indústria madeireira. Publicado na revista científica Perspectives in Ecology and Conservation, o estudo apresenta um caminho para tornar a restauração florestal mais rentável, ao mesmo tempo que alivia a pressão sobre outros biomas naturais, como a Amazônia.
O trabalho foi liderado pelo engenheiro florestal Pedro Medrado Krainovic, no Laboratório de Silvicultura Tropical (Lastrop) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), e contou com o apoio do Programa BIOTA-FAPESP, entre outros projetos. Foi durante seu pós-doutorado que Krainovic desenvolveu um modelo para calcular o tempo de crescimento até que as árvores alcancem um diâmetro de 35 centímetros, tamanho tipicamente demandado pelo mercado madeireiro.
O método, que compreende dados de 13 áreas de recuperação ecológica e dez espécies arbóreas de interesse comercial, proporcionou uma redução de 25% no tempo de colheita e aumentou em 38% a área basal das árvores, resultando em uma antecipação média de 13 anos para a idade ideal de corte. Esta inovação se alinha ao compromisso do Brasil com os acordos globais de clima, como o Acordo de Paris, e pode melhorar a atratividade da restauração florestal para proprietários de terras e investidores.
Com ênfase em práticas sustentáveis, a pesquisa propõe incorporar uma combinação de espécies nativas e modelos de crescimento que definam planos de manejo e colheita com prazos menores, somados ao desenvolvimento de pesquisa e tratamentos silviculturais inovadores. Os resultados têm implicações diretas sobre políticas públicas e programas como o Refloresta-SP, visando a recuperação de áreas degradadas e a implementação de florestas multifuncionais e sistemas agroflorestais.
O cenário otimizado construído pelos especialistas indica que a aplicação de tratos silviculturais pode proporcionar significativamente maior produtividade. Neste cenário, as espécies foram classificadas em faixas de crescimento variando de rápido (menos de 50 anos) a superlento (75-100 anos). A maioria das espécies, protegidas por lei devido ao risco de extinção, atingiram o diâmetro necessário antes dos 60 anos, com exceção do guarantã, de alta densidade madeireira.
A pesquisa também destaca o valor de se ter informações detalhadas para o avanço da restauração florestal, facilitando decisões de uso do solo e incentivando a manutenção de serviços ecossistêmicos. Além disso, sublinha a experiência prática de Krainovic, que, além de acadêmico, tem profunda vivência em iniciativas de restauração e em cadeias produtivas ligadas à indústria de cosméticos na Amazônia.
O estudo realizado em São Paulo e seu subsequente impacto para os programas estaduais e nacionais de restauração refletem um movimento positivo rumo ao cumprimento das metas estabelecidas pela Década da Restauração de Ecossistemas da ONU, enfatizando que a integração de conhecimento científico com a prática de manejo pode desencadear uma transformação substancial e escalável na gestão de nossas florestas.