Fungos tornam resíduos de girassol fonte promissora de proteína e compostos bioativos

Resíduos gerados durante o processamento de sementes de girassol — especificamente as cascas (SFH) e os subprodutos conhecidos como “screens” (SFS) — apresentam baixo valor comercial atualmente, mas têm potencial para aplicações industriais mais nobres. Em estudo recente, pesquisadores testaram cinco cepas de fungos aprovadas como seguras para uso (GRAS) em fermentações com esses subprodutos. O objetivo foi modificar sua composição química e ampliar o valor funcional desses materiais, sobretudo para uso em rações e como fontes de compostos bioativos.

Inicialmente, ambas as biomassas foram caracterizadas como altamente fibrosas (acima de 34% de fibra bruta) e com baixo conteúdo proteico (menos de 11%). A fermentação ocorreu ao longo de cinco dias usando as cepas Aspergillus niger (An), Aspergillus oryzae (Ao), Trichoderma reesei (Tr), Neurospora crassa (Nc) e Aureobasidium pullulans (Ap), sem suplementação externa de nutrientes.

Após o processo fermentativo, observou-se um aumento significativo no conteúdo proteico das frações sólidas, especialmente em SFH fermentado com Nc e An, e em SFS fermentado com Ao, Tr, Nc e An. Isso indica que parte das proteínas originalmente insolúveis passou a integrar a biomassa fúngica ou foi redistribuída por ação enzimática. Apesar de variações nas formas com que cada fungo redistribuiu essas proteínas nos resíduos, no geral, os valores aumentaram, o que representa uma adição de valor nutricional ao subproduto.

Outro avanço importante foi a redução da fibra bruta nas cascas de girassol. Embora esse efeito não tenha sido uniforme a todos os fungos, Aspergillus oryzae obteve o maior decréscimo desse componente, sugerindo uma maior capacidade de degradação de celulose e hemicelulose. Já nos SFS, a fibra foi reduzida de forma mais generalizada entre os tratamentos.

Além disso, os pesquisadores observaram um aumento substancial no conteúdo de compostos fenólicos e na atividade antioxidante nas biomassas fermentadas com todos os fungos — com exceção de Neurospora crassa, que em alguns casos inclusive reduziu esses parâmetros. O destaque foi para Aspergillus niger, que elevou tanto o conteúdo de fenólicos quanto a atividade antioxidante nos dois tipos de resíduos. A correlação significativa entre esses dois indicadores também reforça o papel dos fenólicos como fonte da atividade antioxidante.

Quanto ao conteúdo de ácido fítico, um composto antinutricional indesejado em rações animais, sua redução foi significativa em SFS fermentado com as cepas Ao, Tr e An. Por outro lado, a fermentação com Neurospora crassa resultou em aumento da concentração de ácido fítico nesses resíduos, sinalizando limitações quanto ao uso deste fungo nessas condições.

No balanço geral, o estudo aponta Aspergillus niger como a cepa mais eficiente na valorização dos resíduos de girassol, promovendo simultaneamente o aumento de proteínas e fenólicos, e a redução de fibra e antinutrientes. A robustez do processo sem adição de nutrientes externos reforça sua viabilidade técnica.

No entanto, os autores alertam que os desdobramentos práticos do uso das biomassas fermentadas em ração animal ou aplicações nutracêuticas ainda precisam ser testados em experimentos com animais para confirmação da digestibilidade e da aceitação. Futuros estudos também devem explorar métodos para otimizar as condições de fermentação e caracterizar os perfis enzimáticos das cepas.

Os resultados indicam que, com técnicas adequadas de fermentação fúngica, os coprodutos do processamento de girassol — que hoje enfrentam limitações de uso e desafios logísticos para descarte — podem ser convertidos em ingredientes funcionais e aliados potenciais na construção de uma bioeconomia sustentável.

Fonte: Valorizing sunflower processing byproducts for a sustainable bioeconomy: Fungal fermentation and characterization of hulls and screens

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