Izabella Teixeira defende reestruturação brasileira na bioeconomia

O debate contemporâneo sobre bioeconomia está ganhando novos contornos e aponta para uma inadiável redefinição da relação homem-natureza, conforme salientado pela ex-ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. Em um mundo que contempla as crescentes demandas das economias verdes e reage aos impactos da pandemia da COVID-19, é claro o chamado para repensar a apropriação dos recursos naturais, uma prática atual que resulta na alarmante perda de 80% da biodiversidade global.

Para o Brasil, essa é uma oportunidade de ouro. Uma nação caracterizada por suas riquezas naturais – uma vasta biodiversidade, abundância de água e extensos territórios – deve agora adicionar valor à suas commodities, não apenas visando ganhos econômicos, mas também integrando preocupações de sustentabilidade e inclusão social. A engrenagem das economias verdes opera sob um extenso guarda-chuva, que envolve desde a exploração de biomassas até desafios de economia climática e desarraigamento da pobreza.

A dimensão da ciência na estruturação de uma bioeconomia robusta é ressaltada como vital. Uma bioeconomia moldada no contexto tropical brasileiro, única em sua essência e que dialoga com os conhecimentos tradicionais, tem o potencial de estabelecer estruturas econômicas modernas e lucrativas, redefinindo, assim, o jeito brasileiro de fazer bioeconomia.

É preciso então ponderar como compatibilizar os interesses nacionais às metas globais, iniciando uma conversa que inclua todos – dos pequenos negócios até os grandes corporativos. Isso implica repensar a governança dos espaços naturais – uma gestão consciente que abarque desde reservas públicas até terras privadas. O diálogo se estende a todos, desde populações indígenas até fazendeiros, para além dos biomas amazônicos, englobando a biodiversidade de ecossistemas como cerrado e caatinga.

Tal transformação de paradigmada deve passar também por uma reformulação dos caminhos de nossa democracia, uma abertura ampla que redefina a convivência entre o rural e o urbano e que promova a cooperação internacional, especialmente entre nações sul-americanas, em projetos de desenvolvimento integrados e sustentáveis.

O Brasil, por sua vez, não está excluído da influência dos quatro fatores que moldam a imagem de uma nação – estabilidade econômica, qualidade da democracia, segurança e garantias populacionais e políticas ambientais efetivas. Há entendimento de que a sustentabilidade é o novo paradigma a guiar o processo civilizatório e a relação entre homem e natureza.

Por fim, abordar a sustentabilidade é reconhecer a rejeição da sociedade à deterioração contínua do meio ambiente e o desejo de uma economia mais inclusiva e responsável. Romper com visões ultrapassadas e se alinhar a modelos de negócio inovadores em bioeconomia, como a indústria de cosméticos, moda e química verde, é um imperativo. A sociedade cobra e o Brasil tem nas mãos a capacidade e a criatividade para trilhar o futuro com sustentabilidade e respeito à pluraridade de sua cultura.


Fonte: https://envolverde.com.br/politica-publica/o-debate-sobre-bioeconomia-passa-por-uma-nova-relacao-homem-natureza/

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