São Paulo diante do desafio climático: mais florestas e agricultura intensiva como chave para reduzir GEE

No cenário de emissões de gases do efeito estufa (GEE), São Paulo desponta como o quarto estado brasileiro mais emissor. A majoritária contribuição para este quadro provém do setor energético, dominado pelo uso de combustíveis fósseis, representando 71% das emissões, uma cifra que se assemelha ao panorama global. No entanto, é no contraste entre os índices de emissões provenientes da agricultura e da mudança do uso do solo onde se revela o potencial de São Paulo para alterar sua trajetória e mitigar sua participação no aquecimento global.

Segundo Maurício Cherubin, do CCARBON da FAPESP, a chave para esse avanço está em intensificar a agricultura sustentável e promover um ambicioso programa de reflorestamento e restauração florestal. Essas ações, em conjunto, oferecem um caminho viável para reduzir as emissões. A avaliação de Chrerubin veio à tona na CECTI, evento de cunho preparatório para a 5ª CNCTI, voltado à discussão de medidas emergenciais e de longo prazo frente à crise climática.

Em meio ao debate, a estimativa de um déficit considerável em áreas de preservação no Estado soma-se à urgência por soluções. Cherubin preconiza uma abordagem dupla: aumentar o reflorestamento sinergicamente com uma intensificação agrícola responsável, potencializando culturas como a da cana-de-açúcar que predominam no cenário paulista. Este duplo esforço visaria maximizar a produção em áreas já destinadas à agricultura e, consequentemente, liberar terras para recuperação ambiental.

Patrícia Morellato, do CBioClima da FAPESP, reforça o foco na conservação como pilar para mitigar as mudanças climáticas e preservar a biodiversidade. No entanto, Cherubin articula esse compromisso com a realidade econômica, propondo que a floresta e a agricultura, especialmente canavieira, podem ser complementares, dado que florestas são significativamente mais eficientes na assimilação de CO2 do que plantações de cana.

Os especialistas presentes na CECTI foram uníssonos ao sublinhar a necessidade de uma redução drástica do uso de combustíveis fósseis e um olhar atento às cadeias produtivas para garantir um futuro com emissões líquidas zero. Jean Ometto, do Inpe, pontuou que a eletricidade renovável, bioenergia e tecnologias como armazenamento de energia e captura de carbono são essenciais nesse processo.

Marcos Buckeridge, do RCGI da USP, enumerou seis iniciativas para a descarbonização, salientando a importância de incrementar a produção de biocombustíveis e aprimorar as tecnologias agrícolas. Ele faz alusão ao pré-sal como um exemplo de que as reservas de petróleo podem resistir mais tempo do que previsto, mas defende um uso menos intensivo em carbono como parte da transição energética.

Por fim, a sessão “Mudanças Climáticas e Transição Energética” não apenas refletiu sobre as estratégias energéticas e ambientais, mas também sobre a economia circular e bioeconomia, elementos estratégicos para moldar uma economia de baixo carbono. O intercâmbio de conhecimento entre especialistas e os insights compartilhados na CECTI apontam para um caminho de resiliência e sustentabilidade onde a inovação é pilar para enfrentar as mudanças climáticas.

Fonte: M. F. Ziegler, ‘Para reduzir as emissões em São Paulo é preciso intensificar a agricultura e avançar no reflorestamento,’ Agência FAPESP, 13-Mar-2024. Disponível em: https://agencia.fapesp.br/para-reduzir-as-emissoes-em-sao-paulo-e-preciso-intensificar-a-agricultura-e-avancar-no-reflorestamento/51086. Acesso em: [data de acesso]. DOI: 10.37772/51086.

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