Invasão de lebrão assola agricultura. Prejuízo com espécies exóticas pode chegar a R$ 15 bilhões

A invasão da lebre-europeia, conhecida popularmente como lebrão (Lepus europaeus), já conta prejuízos em ao menos 8 estados brasileiros. Esta espécie de hábitos noturnos, vem ocasionando graves danos à agricultura nas regiões Sul, Sudeste, Centro-oeste e Nordeste. De acordo com um relatório inédito, o impacto financeiro dessa e outras espécies exóticas no país pode alcançar os R$ 15 bilhões anuais.

No âmbito da produção agrícola, o animal se mostra um adversário voraz. Produtores como Marlon Schuvartz, no sul de Santa Catarina, enfrentam prejuízos expressivos com destruições em suas culturas pelo lebrão. Estratégias como cercados, que podem ter custos significativos, são adotadas para minimizar as invasões do mamífero que destroem safras e podem alterar o período de safra, afetando o valor de venda dos produtos.

A expansão da espécie pelo Brasil é ainda impulsionada pelo desmatamento de biomas como a Mata Atlântica e o Cerrado, que têm sido convertidos em pastagens e lavouras, favorecendo a adaptação e propagação do lebrão. A pesquisadora Clarissa da Rosa, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), alerta sobre o potencial reprodutivo da espécie e sua capacidade de dispersão anual, além dos riscos de transmissão de doenças para animais nativos. Enquanto isso, a predatórios naturais como onça-parda e gato-do-mato não mostram eficácia suficiente em controlar a população crescente deste invasor.

Produzir conhecimento científico se faz necessário para um manejo adequado da situação. A lacuna em pesquisas se reflete na dificuldade de controle da dispersão e adequada resposta às interações ecológicas provocadas pelo lebrão no ambiente nacional. Entidades como a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Santa Catarina (FETAESC) clamam por soluções efetivas que vão além das medidas paliativas adotadas atualmente pelos produtores, que ainda enfrentam o desafio adicional das mudanças climáticas.

Em um contexto mais amplo, a perspectiva de controle da lebre-europeia pelo abate foi mencionada, uma modalidade já autorizada para outra espécie invasora, o javali. Contudo, há posicionamento contrário de especialistas quanto a essa prática, considerando os potenciais riscos para a fauna nativa e a preferência pela recuperação de florestas como medida de longo prazo. As armas menores que seriam utilizadas para caçar o lebrão ampliam a preocupação em relação ao impacto em outras espécies endêmicas.

O lebrão é apenas um exemplo de como as invasões biológicas podem gerar impactos socioeconômicos extensos, como demonstra o grupo de 73 pesquisadores da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES) em seu relatório, evidenciando um quadro alarmante referente às 476 espécies exóticas invasoras no país. A questão permeia a agenda de políticas públicas e privadas, ressaltando a necessidade urgente de ações de manejo, bem como a conscientização sobre o transporte e consumo de espécies não-nativas, incluindo aquelas utilizadas em aquicultura e silvicultura.


Fonte: https://oeco.org.br/reportagens/lebrao-invade-o-brasil-no-rastro-do-desmatamento/

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