Inovação da Waste Lab propõe nova vida para resíduos de beterraba na Europa

Em meio a um modus operandi global que almeja eficiência e sustentabilidade, a beterraba-sacarina desponta como uma solução inovadora para o problema dos resíduos agrícolas. Trata-se do maior subproduto da indústria de vegetais da União Europeia, perfazendo um montante impressionante de 57 milhões de toneladas ao ano. Este resíduo, especificamente, é oriundo do processamento de beterrabas para a produção de açúcar, uma alternativa europeia à cana-de-açúcar tropical.

O processo, massivo em sua dimensão, resulta na acumulação de pilhas significativas de polpa de beterraba, muitas vezes subaproveitadas. No entanto, o estúdio de design Waste Lab da Polônia, liderado pela designer Sonia Maria Jaskiewicz, revela uma abordagem que desafia o desperdício. Eles transformar essas pilhas de resíduos foliares e de polpa em opções de embalagens biodegradáveis, que englobam vasos de planta e embalagens para frutas vendidas em supermercados.

O projeto aproveita tecnologias similares àquelas usadas em produção de plástico. As folhas de beterraba são processadas até virar uma pasta, que é então combinada com materiais naturais, resultando num composto com propriedades adequadas para moldagem em alta pressão. Tal inovação valeu ao biomaterial de beterraba o prêmio na categoria ‘Futuro do Design’ em uma competição de design por suas soluções inovadoras de sustentabilidade.

Mas a Waste Lab vai além do inovador uso da beterraba. Ela questiona a própria base da economia moderna — que, segundo sua filosofia, está em desequilíbrio estrutural com seus fundamentos naturais — promovendo uma transição de uma economia de exploração para uma economia de base circular. Este movimento implica priorizar o uso de materiais renováveis e, ao mesmo tempo, aproveitar subprodutos materiais, eliminando fluxos de resíduos. Uma economia circular propõe que todo desperdício se torne insumo para outro processo de manufatura, aproximando-nos de uma economia que respeita a capacidade de suporte ambiental do planeta.

A biodegradabilidade dos produtos também é elemento central na visão sustentável da Waste Lab. Muitos materiais circulares e renováveis degradam naturalmente em ambientes razoáveis, diferente de plásticos derivados do petróleo, mas, paradoxalmente, muitas bioplásticos feitos a partir de plantas são indistinguíveis dos oriundos do petróleo.

Finalmente, a abordagem da Waste Lab enfatiza a importância de utilização de matérias-primas locais. Ao focar na utilização do resíduo de beterraba na Europa, Sonia busca aumentar a conscientização sobre o potencial econômico e ambiental de fontes muito abundantes e ainda subvalorizadas.

Em paralelo a essa jornada inovadora, a União Europeia reconheceu o potencial do resíduo de beterraba em um projeto de bioeconomia denominado PULP2VALUE. Este projeto ocupou-se da extração de compostos de alto valor, como fibras de microcelulose, arabinose e ácido galacturônico. Investigando o potencial químico dos resídos agrícolas, o projeto demonstrou a diversidade de aplicações de alto valor da polpa de beterraba.

Parcerias importantes surgiram neste cenário de inovação, com destaque para a empresa holandesa Royal Cosun, líder no processo da beterraba açucareira. A empresa experimentou técnicas de extração para isolar esses produtos e desenvolveu um sistema custo-efetivo de biorrefinarias em cascata. Enquanto a escala comercial completa ainda não foi atingida, a Royal Cosun continua na vanguarda das aplicações químicas baseadas em resíduos de beterraba, e recebeu em 2022 um subsídio para construir uma biorrefinaria em Delfzijl para converter a polpa de beterraba em produtos químicos sofisticados.

As experiências da Waste Lab e Royal Cosun demonstram que um modelo de economia circular e renovável tem o potencial de ajudar a Europa a atingir a autossuficiência de forma sustentável, incentivando o uso de fontes abundantes, porém negligenciadas, de novos materiais. desafios tecnológicos, institucionais e logísticos permanecem, mas precisa destacar-se que o curso aponta claramente para um futuro onde inovação e sustentabilidade caminham de mãos dadas.


Fonte: https://worldbiomarketinsights.com/the-beet-goes-on-valorising-europes-largest-agro-waste-pool/

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