A revista Pesquisa FAPESP realiza uma profunda reflexão sobre termos e conceitos que têm moldado as ciências humanas e sociais nas últimas décadas. Ao completar 25 anos, a revista revisita palavras e ideias que ganharam destaque em suas reportagens, refletindo sobre a evolução do conhecimento em áreas como economia, história e sociologia. Este esforço mostra como as universidades brasileiras têm se tornado mais diversas e abertas a novos enfoques.
Entre os conceitos abordados, o Antropoceno surge como um dos mais provocativos. Introduzido inicialmente pelo biólogo Eugene Stoermer, o termo ganhou notoriedade com o químico Paul Crutzen. Ele descreve uma era geológica na qual as ações humanas teriam transformado significativamente o planeta. Apesar de um comitê geológico ter refutado a oficialização desta nova era em 2024, o termo continua a ser um relevante instrumento analítico nas ciências humanas.
Outro conceito em foco é a bioeconomia, que explora o potencial do desenvolvimento sustentável através da conservação da biodiversidade e da inclusão social. A discussão envolve o fortalecimento da economia local através de cadeias de valor que respeitam a natureza e geram empregos dignos. Isso demonstra uma preocupação crescente com a utilização responsável de recursos naturais por meio de técnicas que integram conhecimentos tradicionais e tecnológicos.
A cidadania digital e a desinformação também recebem atenção, destacando desafios contemporâneos em torno da utilização responsável de redes digitais. As discussões giram em torno dos direitos e deveres dos usuários, ampliando a noção de responsabilidade moral e jurídica no uso da tecnologia.
Além disso, o texto destaca a decolonialidade, que busca desconstruir as estruturas de poder e conhecimento estabelecidas durante o colonialismo. Este tema ressalta como modelos históricos, muitas vezes eurocêntricos, ainda influenciam as sociedades modernas e propõe a libertação de outras maneiras de compreender a realidade.
Abordando questões sociais, a justiça ambiental e climática emerge como um conceito que critica a distribuição desigual dos impactos ambientais. No contexto brasileiro, onde a desigualdade socioespacial é marcante, os grupos marginalizados são os mais afetados pelas mudanças climáticas e danos ambientais.
A economia circular é outro aspecto analisado, oferecendo alternativas para um sistema econômico que promova a conservação e regeneração dos recursos naturais. Essas práticas buscam dissociar crescimento econômico do consumo excessivo de recursos naturais, sustentando práticas sustentáveis e minimizando a poluição.
Esses conceitos, entre outros como necropolítica e racismo institucional, representam o rico chão interpretativo que as ciências humanas vêm explorando. A evolução desses termos evidencia a capacidade das humanidades de adaptar-se e responder aos desafios do século XXI, relevando-se um espelho das transformações ecológicas, econômicas e sociais do nosso tempo.
Em suma, a análise da revista sugere que a contínua evolução e reflexão sobre esses conceitos é vital para entender e atuar sobre as complexas realidades do mundo contemporâneo, promovendo uma sociedade mais inclusiva e sustentável.