O parlamento da França votou em prol de uma iniciativa legislativa significativa que mira a indústria da moda rápida, posicionando-se contra a produção e o consumo desenfreado de vestuário. Esta medida aponta diretamente para a preocupante prática da ultra fast fashion, que tem sido criticada por seus efeitos nocivos ao ambiente, à sociedade e à sustentabilidade econômica. Com o consumidor europeu descartando cerca de 11 quilos de têxteis por ano, a urgência dessa ação se torna ainda mais evidente.
A proposição, impulsionada pela deputada Anne-Cécile Violland e endossada pelo Ministro da Transição Ecológica, Christophe Béchu, visa impor penalidades financeiras às peças de vestuário de baixo custo, de forma a incorporar o impacto ambiental ao seu preço final. O objetivo é diminuir a pegada ecológica do setor têxtil, enquanto aumenta a consciência do consumidor acerca do cenário desolador impulsionado pelo fast fashion. Béchu expressou satisfação pelo avanço, considerando-o um passo grandioso para a redução do impacto ambiental do setor.
O alvo especificado na proposta é o varejista de moda rápida sino-cingapuriano Shein, conhecido por oferecer um volume colossal de produtos, despejando mais de 7.200 novos modelos de roupas por dia e sustentando um catálogo de 470.000 itens diferentes. O debate acerca do seu valor de mercado, mensurado em cerca de 90 bilhões de dólares na potencial listagem no London Stock Exchange, coloca em perspectiva a magnitude e a influência da fast fashion no cenário global.
Além da questão ambiental, o setor é notório pela poluição hídrica e contribuição significativa para as emissões de gases de efeito estufa – cerca de 10% do total mundial, assim como violações dos direitos trabalhistas e humanos. Isso sem mencionar a produção de resíduos em forma de microplásticos a partir de materiais sintéticos, agravando ainda mais a situação ambiental.
A iniciativa legislativa francesa propõe não apenas impor multas aos produtores com base nos impactos ambientais e emissões de carbono das mercadorias, mas também promover a reparação e reutilização de roupas, combatendo assim a cultura do descarte. Com um enfoque em sustentabilidade e reciclabilidade, a aplicação de tais multas poderá variar e alcançar até 10 euros por item vendido ou 50% do preço de compra até 2030, segundo Violland.
O projeto de lei francês, ao proibir publicidade de marcas e produtos de fast fashion, assim como foi feito anteriormente com a publicidade de combustíveis fósseis sob a Lei do Clima e Resiliência, evidencia a crescente conscientização e a busca por práticas mais responsáveis e éticas no consumo de vestuário. A penalização de empresas que se esmeram em técnicas de marketing comercial e superprodução, segundo o designer de moda masculina Pierre Talamon, é um passo no caminho certo, pois tais práticas não geram empregos, mas contribuem para sua destruição.