Uma investigação exaustiva sobre a distribuição global das plantas utilizadas pelos seres humanos revelou importantes padrões geográficos que são vitais para a gestão sustentável dos recursos vegetais. A análise de 35.687 espécies de plantas utilizadas, abrangendo 10 categorias de uso, como alimento, medicamentos e materiais, mostra uma concordância geral entre a diversidade das plantas utilizadas e a biodiversidade total, o que sustenta o potencial de conservar concomitantemente a biodiversidade e seus contributos para as pessoas.
As regiões de Mesoamérica, Chifre da África e Sul da Ásia, onde se localizam terras indígenas, abrigam uma diversidade desproporcional de plantas utilizadas. No entanto, a presença de áreas protegidas está negativamente correlacionada com a riqueza de espécies utilizadas, realçando a necessidade de encontrar mecanismos para preservar áreas contendo concentrações de plantas utilizadas e conhecimento tradicional, em linha com o recentemente adotado Kunming-Montreal Global Biodiversity Framework.
A pesquisa descobriu que as maiores concentrações de espécies de plantas utilizadas estão nos trópicos, com áreas temperadas como a China e o Himalaia também exibindo rica diversidade nativa, e a Europa Ocidental e o Leste dos EUA em diversidade introduzida. A latitudinal distribuição de plantas utilizadas para diferentes funções segue padrões similares, declinando a partir dos trópicos em direção às latitudes mais altas para todas as 10 categorias de uso.
Além disso, a análise revela um forte vínculo espacial positivo entre riqueza de plantas utilizadas e diversidade cultural humana, reforçando a hipótese de que áreas com alta diversidade biológica também tendem a ter uma rica variedade de plantas benéficas para as populações humanas. Porém, surpreendentemente, as terras sob os direitos tradicionais dos povos indígenas globais não necessariamente contêm concentrações maiores de espécies de plantas com usos documentados globalmente em comparação com regiões vizinhas não indígenas.
Essa pesquisa também identifica uma urgente necessidade de considerar a diversidade vegetal e suas contribuições para as pessoas no planejamento futuro de conservação baseada em áreas, especialmente em relação ao ambicioso alvo do GBF de conservar a biodiversidade em 30% das áreas terrestres globais até 2030, reconhecendo os direitos dos povos indígenas e comunidades locais.
Finalmente, o estudo alerta que apesar da diversidade de plantas utilizadas estar em grande parte desprotegida na natureza, a maioria também não está representada em coleções ex situ, como bancos de sementes e jardins botânicos. Entender a diversidade e distribuição das plantas utilizadas pelos humanos é crucial para implementar estratégias de conservação que abordem desafios globais como fome, doenças e mudanças climáticas, pavimentando o caminho para um futuro mais sustentável.
Para sanar essa lacuna identificada entre a proteção das espécies de plantas utilizadas e o conhecimento tradicional associado, os autores da pesquisa recomendam a inclusão destes aspectos no centro das discussões de conservação e manejo sustentável da biodiversidade, com um olhar ampliado para as interações humanas com a natureza.
Fonte: S. Pironon et al., “The global distribution of plants used by humans,” Science, vol. 383, no. 293-297, Jan. 2024, doi: 10.1126/science.adg8028.