A Amazônia, a maior floresta tropical do mundo, está em uma encruzilhada crítica, enfrentando uma devastação sem precedentes causada pelo desmatamento, secas severas e incêndios florestais de intensidade recorde. Nos últimos meses, o número de alertas de incêndio disparou 79% acima da média para essa época do ano. Não obstante, apesar de um momentâneo alívio com a queda de 50% no desmatamento em 2023, o bioma sofre com a pressão de atividades humanas que ameaçam seu equilíbrio e a função vital como armazenadora de carbono.
Desde a década de 1980, a Amazônia perdeu volume significativo, comparável ao tamanho de grandes países da Europa, devido principalmente à mineração, agricultura e pecuária. Tal destruição não apenas coloca em risco a biodiversidade, mas avança constantemente em direção a um ponto de inflexão alarmante previsto para 2050, onde o dano causaria alterações climáticas drásticas e irreversíveis.
Em resposta a essa ameaça, o debate sobre quem deve financiar a preservação da Amazônia ocupa o centro das discussões internacionais. A floresta, localizada principalmente no Brasil, mas também se estendendo por outros sete países da América Latina, possui uma importância global imensurável, capaz de estabilizar a temperatura do planeta ao armazenar vastas quantidades de dióxido de carbono.
Diversas organizações e especialistas, como Jack Hurd da Tropical Forest Alliance, defendem que a responsabilidade pela preservação da Amazônia é coletiva. Apesar das contribuições do Fundo Amazônia, que tem recebido apoio financeiro significativo de nações como Noruega e Alemanha, o montante não é suficiente para enfrentar os desafios impostos ao bioma. Nos últimos anos, o fundo foi reativado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, possibilitando a aplicação de recursos em projetos que visam à prevenção de incêndios e ao fortalecimento das áreas de conservação e terras indígenas.
No entanto, a extensão do financiamento necessário destacado é substancial, exigindo de 1,7 a 2,8 bilhões de dólares anualmente para manter 80% da Amazônia conservada, segundo os especialistas. A solução para garantir essa quantia passa não apenas pelo financiamento público e doadores internacionais mas também pela implicação de incentivos que atraiam o setor privado para adotar práticas sustentáveis.
As propostas incluem a criação de iniciativas inovadoras como o Tropical Forests Forever Facility (TFFF) — uma estratégia para angariar enormes investimentos para a manutenção das florestas tropicais — e o mecanismo Jurisdictional Redd+ (JREDD), que planeja associar créditos de carbono à redução do desmatamento, beneficiando Estados e nações em troca de esforços comprovados na preservação florestal.
As sugestões de incentivos e estruturas econômicas para uma economia sem desmatamento são tangíveis, mas exigem a participação ativa de todos os atores envolvidos, incluindo governos nacionais, ONGs, instituições financeiras e, crucialmente, a sociedade civil.
Com a declaração do Banco Mundial de um título de financiamento de 225 milhões de dólares vinculado a atividades de reflorestamento, tornou-se claro que enfrentar a ameaça de devastação da Amazônia é uma jornada coletiva. Como afirmou José Otavio Passos, da The Nature Conservancy, este é um apelo à ação conjunta e à aceleração de esforços entre os países ricos, o governo brasileiro, e as empresas, para transformar a Amazônia de um perigo iminente em um modelo para um futuro sustentável e ecológico.