O mercado de biocombustíveis global, avaliado em cerca de 120 bilhões de dólares em 2023, atravessa um período crítico em meio a desafios de oferta e demanda. Apesar de sua posição consolidada como um dos setores mais desenvolvidos dentro da bioeconomia, a indústria de biocombustíveis enfrenta atualmente uma queda de preços que vem impactando grandes projetos e investimentos, especialmente na Europa e nos Estados Unidos.
Recentemente, a Europa observou uma queda nos preços do biodiesel, iniciada no começo de 2023, atribuindo-se principalmente a uma demanda fraca e excesso de oferta. O cenário é semelhante na América do Norte e na Ásia, afetando vastamente o mercado global. Tal situação levou grandes empresas de petróleo a frear seus projetos de biorrefinarias nas últimas semanas do verão de 2024. A BP, por exemplo, anunciou a redução na expansão de novas plantas de combustível sustentável para aviação e diesel renovável na Europa. No mesmo período, a Shell suspendeu temporariamente a construção de uma imensa instalação de biocombustíveis em Roterdã, prevendo uma perda de um bilhão de dólares com a paralisação do projeto.
A Chevron foi forçada a dispensar trabalhadores em sua planta de biodiesel na Alemanha, e projeta encerrar definitivamente a unidade até o fim deste ano. Enquanto isso, duas plantas de biodiesel no Meio-Oeste dos EUA também estão programadas para fechar. Essas ações refletem a realidade de mercado onde a capacidade de produção supera, em larga escala, a demanda atual, função de regulamentações que, muitas vezes, ditam o consumo de biocombustíveis.
A regulamentação tem desempenhado um papel crucial ao determinar a procura por biocombustíveis nos Estados Unidos, onde a demanda gira em torno de 4 a 4,5 bilhões de galões anualmente, embora a capacidade de produção esteja prestes a exceder 7 bilhões de galões. Isso ilustra como as políticas influenciam diretamente a dinâmica do mercado, principalmente quando se considera o custo dos biocombustíveis em comparação com os derivados de petróleo.
No entanto, o cenário não é uniforme globalmente. No Brasil, o investimento em biocombustíveis não diminuiu. O país, conhecido por sua vasta produção agrícola e de biocombustíveis a baixo custo, continua atraindo investimentos expressivos. A Mubadala Capital, empresa sediada em Abu Dhabi, está comprometida com um investimento substancial em um projeto de biocombustíveis no Brasil, englobando módulos capazes de processar 20 mil barris por dia. Sublinha-se também o interesse contínuo da Petrobras em ativos vendidos para Mubadala, que considera readquiri-los.
Em outras regiões, como a Ásia, os investimentos em biocombustíveis persistem. Um exemplo disso é a decisão de investimento em uma planta de produção de biocombustíveis na Malásia, conduzida por empresas como Euglena, Petronas e Eni, com capacidade anual para 650 mil toneladas. Estas ações mostram que, apesar das dificuldades atuais, há uma visão de longo prazo que motiva esses investimentos.
Políticas específicas, especialmente na União Europeia, que exige que ao menos 2% de todos os combustíveis de aviação devem consistir em combustíveis de aviação sustentáveis até 2025, subindo para 20% até 2035, reforçam essa expectativa de recuperação a longo prazo. No entanto, as perspectivas de curto a médio prazo permanecem incertas, influenciadas por fatores econômicos e políticos. A evolução das regulamentações será determinante para o futuro do mercado de biocombustíveis, que ainda pode enfrentar reveses dependendo dos resultados políticos nos EUA e na Europa.
Fonte: https://worldbiomarketinsights.com/whats-happening-to-the-biofuels-market/