Com o objetivo de analisar as inovações e as dinâmicas de rede na bioeconomia, um estudo de caso sobre a cadeia de valor do café na Alemanha explora como essas inovações estão sendo desenvolvidas e os desafios enfrentados para a valorização de resíduos. O setor de café alemão é tecnologicamente avançado, apresentando um forte foco em sustentabilidade, especialmente na potencialização de resíduos agrícolas.
A pesquisa, publicada no “Circular Economy and Sustainability”, identificou três tipos de percepções entre os atores da cadeia de valor do café em relação à valorização de resíduos: os pioneiros, que já estabeleceram negócios utilizando resíduos como silverskins para produção de energia; os utilizadores exclusivos de torra, interessados em oportunidades de negócios com grãos defeituosos e borra de café, mas resistentes à exploração em outros setores; e os torrefatores convencionais, que têm um uso limitado dos resíduos e são abertos à exploração de novos usos.
A pesquisa encontrou quatro principais barreiras para a inovação: a estrutura da rede de café, inconsistências nas regulamentações de resíduos, economias de escala e a visão de sustentabilidade. O estudo de campo foi realizado através de uma combinação de entrevistas semiestruturadas e uma análise da rede social da indústria, analisando como os atores estão posicionados e suas comunicações.
Os gestores de resíduos públicos apareceram como os atores mais conectados, enquanto certos torrefatores atuam como importantes intermediários para a comunicação eficiente na rede. No entanto, identificou-se que os regulamentos federais de resíduos apresentam ambiguidades, especialmente no que diz respeito à classificação e uso dos resíduos agrícolas como subprodutos. Esta falta de clareza regulatória foi considerada um dos maiores impedimentos para o desenvolvimento da bioeconomia.
Do ponto de vista econômico, a necessidade de uma infraestrutura eficiente para o armazenamento e movimentação de resíduos, de forma a evitar o mofo e a contaminação, constitui um desafio para muitos produtores, especialmente os de menor porte. Além disso, a capacidade administrativa necessária para gerenciar a venda de resíduos é outro obstáculo significativo, geralmente viável apenas para empresas de grande escala.
A estudo destaca que embora a consciência sobre o volume de resíduos gerados não seja um obstáculo, a maioria dos entrevistados ainda vê os resíduos do processamento de café como lixo, apesar das possibilidades de valorização industrial, especialmente para geração de biogás. A pesquisa sugere que os formuladores de políticas reavaliem os quadros regulatórios primários dos resíduos na Alemanha, como o Ato de Reciclagem Alemão, para ampliar as correntes de uso dos resíduos e estimular o desenvolvimento da bioeconomia no setor cafeeiro.
Finalmente, enfatiza-se que, para maximizar o potencial das iniciativas de bioeconomia, é essencial a colaboração com setores adjacentes, como indústrias farmacêuticas e cosméticas, e que o governo deve desempenhar um papel mais ativo na facilitação dessas parcerias.
Fonte: https://link.springer.com/article/10.1007/s43615-024-00357-7