Quatro empresas do setor florestal no Uruguai estão no centro de um estudo que analisa como modelos de inovação aberta (Open Innovation – OI) podem ser integrados a estratégias de sustentabilidade e circularidade no setor da bioeconomia. A pesquisa, conduzida por Juan I. Dorrego-Viera e colaboradores, parte de um panorama em que a economia baseada em recursos naturais renováveis requer soluções sistêmicas e colaborativas para garantir sua viabilidade ambiental e econômica no longo prazo.
Utilizando estudos de caso, os pesquisadores identificaram práticas que vão além dos modelos fixos de negócios sustentáveis, propondo uma abordagem dinâmica. As empresas analisadas – que operam no processamento mecânico da madeira – adotam diferentes combinações de oito arquétipos de modelos de negócios sustentáveis e se posicionam variadamente dentro de uma tipologia de OI que distingue o grau de abertura e variedade de parceiros e fases de inovação acessadas.
Entre as principais estratégias sustentáveis destacadas estão a eficiência energética, o uso de renováveis, a extração de valor a partir de resíduos e a promoção da suficiência. Todas as empresas declararam compromisso com práticas responsáveis, como manejo sustentável de florestas, uso de resíduos como fonte energética e investimentos em tecnologia. No entanto, nenhuma ainda aplica integralmente o conceito de servitização – modelo que substitui a venda de bens pelo fornecimento de serviços – o que, segundo os autores, limita o potencial de circularidade.
Em termos de inovação, os perfis variam de inovadores fechados, como a Companhia D, que foca no desenvolvimento interno e na proteção de propriedade intelectual, a inovadores abertos amplamente colaborativos, como a Companhia B, que articula uma ampla rede com universidades, ONGs e agricultores. Um ponto comum entre as empresas é o esforço para incorporar ferramentas digitais, como sensores baseados em IoT, análise preditiva e gêmeos digitais, para otimizar processos produtivos, acompanhar desempenho ambiental e fortalecer cadeias de valor.
O estudo sugere que os arquétipos sustentáveis não devem ser vistos como modelos fixos, mas sim como estratégias adaptáveis, capazes de evoluir em resposta a novas demandas de mercado, políticas públicas ou tecnologia. A adoção de tecnologias digitais fortalece essa flexibilidade ao possibilitar decisões baseadas em dados, transparência e reconfiguração dos processos produtivos em tempo real.
Uma contribuição importante da pesquisa é a proposta de um quadro analítico que cruza os arquétipos sustentáveis com os modelos de OI. Isso permite compreender como as escolhas estratégicas em sustentabilidade e inovação são mutuamente influentes e moduladas pelas possibilidades tecnológicas do atual contexto digital.
Para gestores, o estudo indica que alinhar os modelos de negócios com objetivos de sustentabilidade e usar tecnologias digitais para apoiar esse alinhamento não é apenas desejável, mas necessário. A adoção de práticas como eco-design digital, monitoramento via blockchain e parcerias estratégicas com centros de pesquisa pode garantir maior competitividade, viabilidade de longo prazo e atração de novos mercados.
Já para formuladores de políticas, os autores defendem medidas integradas entre agências estatais que incentivem tanto a digitalização como a inovação verde no setor florestal. Eles sugerem subsídios, incentivos fiscais e redes de cooperação interinstitucional como caminhos para impulsionar os modelos circulares e inovadores do setor.
Ao tratar da bioeconomia florestal no Uruguai, os autores propõem um novo olhar para a sustentabilidade: não como um pacote de boas intenções ou certificações isoladas, mas como um ecossistema organizacional dinâmico, onde inovação e práticas ambientais caminham lado a lado – agora intensamente habilitadas pelas tecnologias digitais.