Bioeconomia no Brasil: desafios, oportunidades e a busca por um modelo sustentável

No contexto global, há uma crescente ênfase na bioeconomia como uma alternativa sustentável para os modelos econômicos tradicionais, com destaque para sua aplicação na promoção de segurança alimentar e geração de empregos. Neste panorama, o Brasil, com sua vasta biodiversidade e experiência histórica no uso de insumos biológicos, possui uma posição única para alavancar este modelo econômico.

A implementação de estratégias ligadas à bioeconomia no Brasil exige uma abordagem integrada, que envolva não apenas a biotecnologia, mas também bioinsumos e bioecologia, de forma a aprimorar a eficiência produtiva e preservar a biodiversidade. Isso se traduz na utilização de recursos biológicos como alternativa aos insumos químicos convencionais na agricultura, pecuária e indústrias, promovendo um ciclo econômico mais sustentável. Contudo, essa transição impõe desafios significativos, sobretudo no que se refere ao investimento necessário para transformar práticas tradicionais em processos mais inovadores e ecologicamente conscienciosos.

A literatura atual ressalta que o Brasil já superou a marca de dois trilhões de reais em termos de bioinsumos utilizados em suas atividades econômicas. No entanto, a completa integração desses insumos nas cadeias de valor ainda está em processo. O crescimento populacional global intensifica a demanda por modelos produtivos sustentáveis, onde a bioeconomia surge como uma solução vital para garantir a segurança alimentar.

Estudos destacam o potencial competitivo do Brasil devido à sua rica biodiversidade, que inclui cerca de 55 mil espécies de plantas, o que representa cerca de 22% da diversidade mundial. O país enfrenta, entretanto, desafios quanto à coleta de dados e pesquisa, necessários para desenvolver bioinsumos especificamente para cada um de seus biomas. Iniciativas nesse sentido são vistas como fundamentais para a criação de uma economia biológica que gere valor econômico e social.

A monocultura, como no cultivo de açaí, evidencia as armadilhas da mercantilização excessiva dos recursos naturais. Especialistas argumentam que uma bioeconomia sustentável, especialmente na Amazônia, exige diversificação e métodos que favoreçam a preservação das florestas e a valorização das comunidades locais.

O papel dos economistas, segundo os debates mais recentes, é crucial para assegurar que a transição para a bioeconomia aconteça de maneira economicamente viável, evitando externalidades negativas e favorecendo o desenvolvimento socioeconômico sustentável. Isso inclui promover a eficiência no uso dos insumos, minimizando os impactos ambientais e otimizando o uso dos recursos.

Os desafios para o Brasil incluem também a adaptação de seu agronegócio a um sistema que suporte a conservação de seus recursos biológicos, incorporando práticas que não apenas garantam produtividade, mas também considerem as implicações sociais e ambientais de longo prazo.

Há um impulso significativo em direção à bioeconomia em países da Europa e Ásia-Pacífico, os quais têm liderado a produção de produtos químicos de base biológica. Enquanto a Alemanha já se destaca nesta área dentro da Europa, o Brasil possui uma oportunidade comparativa única, particularmente na agricultura, saúde e energia renovável. Contudo, para que esses avanços sejam sustentáveis, há uma necessidade clara de políticas públicas que fomentem pesquisa, inovação e uma distribuição justa dos benefícios econômicos advindos dessa transição.

Os analistas apontam que um crescimento econômico de qualidade passa por revisitar o impacto ambiental e social das atividades econômicas, conduzindo o Brasil para um modelo de desenvolvimento que privilegie o equilíbrio entre crescimento e preservação ambiental. O cenário é desafiador, mas promissor, alavancado pelo potencial natural do Brasil e pela urgência de alternativas sustentáveis em um mundo que caminha para uma população de 10 bilhões de habitantes.


Fonte: https://www.cofecon.org.br/2024/10/11/por-uma-bioeconomia-tropicalizada/

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