Em um contexto onde a Amazônia enfrenta a pior seca dos últimos cinquenta anos, impulsionada pelo desmatamento e condições climáticas extremas, surge a proposição de construir uma bioeconomia na região como forma de combater a degradação ambiental e proteger a biodiversidade. Diante desta crítica realidade, o co-fundador do Instituto Igarapé, Robert Muggah, defende a necessidade de valorizar economicamente as florestas primárias ainda em pé como pilar essencial para reverter o desmatamento e promover desenvolvimento sustentável.
O conceito de bioeconomia incorpora práticas de agricultura regenerativa, energia sustentável, dentre outras atividades que visam não apenas preservar os ativos naturais da floresta, mas também trazer benefícios econômicos para as comunidades locais. Contudo, a expansão da bioeconomia na região amazônica encontra obstáculos significativos, como a resistência de setores extrativistas, riscos de investimento e a imperiosa necessidade de infraestrutura, pesquisa e apoio para as empresas locais.
O panorama atual aponta para momentos de tensão entre a consolidação de uma economia verde e as forças de práticas extrativistas arraigadas, resistindo à transformação. A despeito destas dificuldades, perspectivas promissoras emergem no horizonte, como a iniciativa da empresa Natura em investir em projetos de financiamento misto para estimular cooperativas locais. Além disso, documenta-se o crescente entusiasmo em nível global pelo potencial da bioeconomia, reiterado na Conferência Pan-Amazônica sobre Bioeconomia realizada em Belém, Brasil.
A promoção da bioeconomia é discutida como um meio efetivo de reduzir as emissões de carbono da região em até 550 milhões de toneladas e injetar até $284 bilhões por ano na economia do Brasil até 2050. Para alcançar tal feito, é indispensável agilizar a construção do suporte para a bioeconomia regional, incluindo o incentivo à criação de empresas com alto valor agregado de produtos bio-baseados, a garantia de direitos de propriedade intelectual e a implementação de estratégias que priorizem o compartilhamento do conhecimento com as comunidades indígenas e tradicionais.
As políticas e programas bioeconômicos, que já estão evoluindo em nações como Brasil e Colômbia, assim como os esforços governamentais em países como Equador e Peru, delineiam um cenário de progresso, embora ainda desafiador. Por outro lado, países como Bolívia e Venezuela mostram resistência ao termo ‘bioeconomia’, focando em iniciativas de menor escala voltadas para a segurança alimentar e insumos como biofertilizantes. Já em Guyana e Suriname, confrontam-se as estratégicas de economia de baixo carbono com o poderoso lobby dos combustíveis fósseis.
Como parte de um esforço conjunto entre o Instituto Igarapé e o Banco Interamericano de Desenvolvimento, uma cartografia das comunidades trabalhando com questões relacionadas à bioeconomia pela região foi desenvolvida, conectando acadêmicos, empreendedores e investidores. As estratégias baseadas na natureza, como a bioeconomia, transcendem o contexto regional e apresentam-se como cruciais para a sobrevivência humana. Afinal, a transição para um modelo de produção ecologicamente sustentável na Amazônia é uma questão que, além de estratégica, é imprescindível para o futuro de toda a humanidade.