A bioeconomia baseada em agroflorestas está se revelando uma peça-chave para a transição verde na África, segundo discussões recentes na 12ª Conferência sobre Mudança Climática e Desenvolvimento na África. Realizada em Abidjã, na Costa do Marfim, esta conferência abordou como o avanço das práticas agroflorestais pode gerar empregos verdes e fortalecer a segurança alimentar, ao mesmo tempo em que promove a conservação da biodiversidade.
No contexto africano, onde aproximadamente 50% do PIB global está interligado à natureza, a integração de práticas sustentáveis nos modelos de crescimento econômico surge como uma necessidade premente. Este ponto foi destacado por Kennedy Muthee, do Centro Internacional de Pesquisa Florestal e Agrossilvicultura (CIFOR-ICRAF), enquanto apresentava potenciais das agroflorestas para minimizar as emissões de gases de efeito estufa e criar meios de subsistência resilientes para as populações locais.
A conferência também foi palco para o lançamento do projeto piloto Adaptation Benefit Mechanism (ABM), financiado pelo Banco Africano de Desenvolvimento, que visa mobilizar financiamentos públicos e privados para a adaptação climática. Este projeto, implementado na Costa do Marfim, atua junto a mais de 400 pequenos produtores de cacau, incentivando a inclusão de sistemas agroflorestais em suas plantações, aumentando assim sua capacidade de adaptação às mudanças climáticas e melhorando seus resultados econômicos.
Apesar das vantagens evidentes, existem desafios significativos a serem superados. A persistente fragmentação entre cientistas e formuladores de políticas impede ações climáticas eficazes, conforme mencionado por Alice Kaudia, cientista associada do Instituto de Meio Ambiente de Estocolmo. A falta de comunicação e colaboração é um obstáculo significativo à implementação de políticas baseadas em evidências.
O setor agroflorestal tem um potencial subexplorado na África, onde mais de 100 milhões de hectares de terra arável são dedicados a commodities arbóreas, afetando diretamente mais de 150 pequenos agricultores e contribuindo com mais de 15% do PIB do continente. No entanto, a baixa adição de valor é um entrave ao desenvolvimento de uma economia verde robusta e lucrativa.
Um aspecto importante abordado na conferência foi a necessidade de integração dos produtos africanos nas cadeias de valor internacionais. A dificuldade em atingir os padrões globais, como evidenciado pelo setor de cacau de Gana, demonstra a necessidade urgente de padronização para atender às demandas ecológicas e de sustentabilidade dos mercados internacionais.
James Kinyangi, do Banco Africano de Desenvolvimento, destacou que práticas sustentáveis como a agrofloresta têm o potencial de transformar paisagens, exemplificando com as florestas Miombo na África Austral e as paisagens de Yangambi na Bacia do Congo. No entanto, ele ressaltou a importância de expandir essas intervenções para mais comunidades e melhorar a documentação e disseminação de seus impactos.
A conferência ressaltou a importância de respostas locais adaptadas às necessidades da África em vez de uma dependência excessiva de soluções externas. Para os participantes, o sucesso na utilização do potencial bioeconômico do continente dependerá de compromisso robusto, mecanismos de financiamento inovadores e cooperação estreita entre cientistas, formuladores de políticas e comunidades locais.
Com estratégias adequadas, a África pode converter desafios climáticos em oportunidades de crescimento sustentável, transformando sua economia através de práticas agroflorestais e bioeconômicas.