Agro-suicídio: o desmatamento coloca em perigo o agronegócio e a segurança alimentar no Brasil e no mundo.

O fenômeno descrito como “agro-suicídio” está chamando a atenção de pesquisadores e especialistas ao redor do mundo, indicando um alarmante panorama para o agronegócio e a segurança alimentar tanto no Brasil quanto no cenário global. Em recente estudo liderado por pesquisadores das Universidades Federal de Minas Gerais (UFMG) e de Bonn, na Alemanha, foi evidenciada uma trajetória preocupante do desmatamento que está reduzindo significativamente a capacidade da Amazônia e do Cerrado em regular os padrões de chuva, essenciais para a agricultura de sequeiro, predominante no Brasil.

Dados apontam que, já em 2019, um quarto do sul da Amazônia brasileira havia atingido limites críticos de desmatamento, comprometendo drasticamente o volume das chuvas em regiões lembradas como grandes produtoras de soja. As análises hidrológicas mostraram reduções de até 48% no volume de chuva em determinadas áreas, com um prejuízo econômico estimado em R$ 5,7 bilhões anuais caso o ritmo de desmatamento se mantenha.

A condição climática atual, potencializada pela temperatura elevada das águas do Atlântico Norte e pelo fenômeno do El Niño, tem sido agravada pela ação humana através do desmatamento, que altera o ciclo natural de evapotranspiração e interfere na formação de nuvens e precipitação, trazendo consequências diretas para a produção agrícola e a sustentabilidade do ecossistema local e regional.

Pesquisas conduzidas desde 2019 ofereceram uma visão detalhada do impacto do desmatamento nas estações chuvosas, revelando por exemplo que cada porcentagem de aumento no desmatamento provoca um atraso no início da estação chuvosa. Estudos adicionais identificaram que ultrapassar o limite de 55-60% de desmatamento em determinadas áreas acarreta uma redução drástica e possivelmente irreversível nas chuvas.

Este cenário não se restringe à Amazônia, mas se estende ao Cerrado, destacado como essencial para o agronegócio brasileiro e mundial. O bioma enfrenta um crescimento expressivo na expansão agrícola e, consequentemente, um aumento nas taxas de desmatamento, com impactos já observáveis como atraso nas estações chuvosas e elevação da temperatura média desde a década de 80.

Diante desses dados alarmantes, a busca por soluções sustentáveis se mostra urgente. Estudos apontam que a efetiva aplicação de políticas de conservação e a implementação correta do Código Florestal, juntamente com investimentos em tecnologias agrícolas mais eficientes e sustentáveis, poderiam reduzir significativamente os riscos relacionados à diminuição das chuvas. Este movimento é essencial para garantir a sobrevivência do agronegócio e a manutenção da segurança alimentar em nível mundial. A mensagem é clara: ignorar o desmatamento significa virar as costas para o próprio agronegócio e colocar em risco a vida de todos os seres que dependem desses dois biomas vitais.


Fonte: https://theconversation.com/agro-suicidio-desmatamento-poe-em-risco-agronegocio-e-seguranca-alimentar-no-brasil-e-no-mundo-215422

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