Estudo revela ganhos e desigualdades na adoção de biotecnologia na agropecuária

Um estudo conduzido por pesquisadores brasileiros analisou os impactos da adoção de biotecnologia na agropecuária sob diferentes perspectivas – produtiva, econômica, socioambiental e institucional – revelando um quadro de ganhos significativos, mas também de desigualdades no acesso à inovação no campo.

O trabalho comparou duas propriedades rurais com perfis contrastantes: uma que utiliza cultivares geneticamente modificados e irrigação por gotejamento, e outra com práticas convencionais. Os resultados mostram que a tecnologia permitiu dobrar a produtividade agrícola (de 40 para 82,25 sacas por hectare) e aumentar em 97% o lucro líquido, mesmo com um acréscimo de 5% nos custos operacionais.

Além do expressivo aumento de produtividade, a adoção da biotecnologia contribuiu para uma significativa eficiência no uso de insumos, redução do uso de defensivos químicos e uso mais racional da água. As evidências convergem com dados internacionais que apontam benefícios semelhantes em países do Sul Global, inclusive com impactos positivos sobre a renda agrícola e segurança alimentar.

Os autores argumentam que a biotecnologia é um vetor tecnopolítico, capaz de reestruturar os sistemas agroalimentares quando combinada com políticas públicas eficazes. No entanto, a pesquisa identificou que seu impacto está fortemente condicionado à existência de suporte técnico e acesso a crédito. Um dos produtores entrevistados afirmou saber do potencial da biotecnologia, mas não se sente apto a utilizá-la por falta de assistência e segurança técnica.

Esse ponto reforça uma das principais conclusões do estudo: os efeitos positivos da biotecnologia são potencializados pela presença de ecossistemas institucionais robustos. Em outras palavras, sem políticas públicas estruturantes – como extensão rural qualificada e crédito orientado –, o avanço da biotecnologia tende a aprofundar desigualdades produtivas.

O estudo também explora os efeitos da biotecnologia sobre aspectos ambientais e estratégias de mitigação das mudanças climáticas. A redução do consumo de defensivos e a capacidade de aumentar a produtividade em áreas já cultivadas estão alinhadas com a lógica da intensificação sustentável e com os compromissos ambientais assumidos internacionalmente.

Os autores recomendam a formulação de uma estratégia nacional de biotecnologia agropecuária com foco em equidade, sustentabilidade e inovação. Essa política deve envolver integração entre ciência, tecnologia e fomento público, garantindo que os benefícios da inovação não permaneçam restritos a produtores com maior capacidade técnica e econômica.

Ao final, o estudo destaca a urgência de uma agenda pública voltada à distribuição equitativa das inovações tecnológicas no território rural. A biotecnologia, defendem os autores, não deve ser vista apenas como uma ferramenta de produtividade, mas como uma plataforma técnico-científica que pode orientar o país rumo a uma bioeconomia inclusiva e sustentável.

Fonte: INVESTIMENTO EM BIOTECNOLOGIA NA AGROPECUÁRIA BRASILEIRA

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