A entrada iminente da JBS, o maior processador de carne do mundo e uma importante contribuidora para a poluição climática, na Bolsa de Valores de Nova York está atraindo uma onda de críticas e preocupações. Uma aliança inusitada de senadores norte-americanos, membros do parlamento britânico, ambientalistas e um grupo de lobby secreto, articula-se para persuadir a administração Biden a impedir a oferta de ações da gigante brasileira aos investidores dos EUA, devido ao seu vínculo com o desmatamento na Amazônia.
Os opositores da operação financeira da JBS, uma empresa marcada por escândalos e considerada um poluidor climático significativo, argumentam que sua listagem na Bolsa de Valores de Nova York poderia acelerar o desmatamento, ampliar o poder da família controladora da empresa sob operações questionáveis e incrementar os riscos tanto para investidores quanto para o planeta. Especialistas financeiros assinalam, contudo, que a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC, na sigla em inglês) não tem autoridade para bloquear a JBS de vender ações nos EUA, desde que a empresa seja transparente com os investidores sobre seu impacto climático e outros riscos.
Embora reconheçam o limitado poder da SEC, ambientalistas insistem que a agência deveria atuar, pois a JBS não estaria divulgando integralmente os riscos financeiros de seus planos, que foram anunciados em julho último. A divulgação de uma visão de futuro sustentável por parte da empresa, que argumenta conformidade com os padrões da SEC, não convenceu seus críticos, que destacam a longa trajetória de corrupção, abusos de direitos humanos e práticas monopolistas da empresa.
Representantes políticos expressaram suas preocupações em uma carta à SEC, pedindo proteção à integridade do mercado de capitais dos EUA e aos direitos legais dos investidores norte-americanos frente aos riscos que a JBS apresenta aos possíveis acionistas. Essa posição é reforçada por uma pressão internacional que inclui apelos de membros do parlamento do Reino Unido contra a oferta pública inicial de ações (IPO) da JBS.
A controvérsia em torno da JBS está enraizada nas múltiplas acusações de que a companhia, fundada em 1953 por José Batista Sobrinho e atualmente gerida por seus filhos, estaria adquirindo gado criado de maneira ilegal em áreas protegidas da Amazônia, envolvendo-se em suborno de oficiais do governo brasileiro e enfrentando acusações de fixação de preço da carne. Suas práticas resultaram em centenas de milhões de doláres em multas e acordos nos EUA e no Brasil ao longo dos anos.
A JBS, que emprega mais de 240.000 pessoas globalmente e teve receitas próximas aos 75 bilhões de dólares em 2022, tem sua pegada de carbono comparada a algumas nações da Europa Ocidental. Os ambientalistas alertam que sua listagem facilitaria ainda mais o agravamento do desmatamento e daria à família Batista um poder praticamente absoluto sobre a empresa, intensificando os riscos ambientais e para os acionistas.
No entanto, apesar da oposição veemente, a resposta do mercado ao anúncio do plano da JBS tem sido positiva, com aumento de mais de 30% no preço de suas ações desde o anúncio. Especialistas sugerem que se os legisladores estão verdadeiramente preocupados com o acordo da JBS e outros potenciais semelhantes, poderiam fortalecer as atribuições da SEC para considerar a história de conformidade das empresas ou as implicações ambientais de seus planos de negócios.
Enquanto o debate sobre os limites do poder regulatório da SEC e a legitimidade das práticas empresariais da JBS prossegue, a situação atual desafia os investidores a ponderar entre o lucro e a responsabilidade ambiental e social em suas decisões de investimento.