“Um desafio disruptivo para a engenharia brasileira”

Na busca por alternativas de desenvolvimento que harmonizem tecnologia, sustentabilidade e inclusão social, um desafio disruptivo é proposto à engenharia brasileira. Tem como epicentro a região amazônica e o conceito de bioeconomia circular.

A proposta audaciosa concebida pelo Instituto de Engenharia (IE), com Carlos Nobre, renomado cientista e engenheiro como um dos coordenadores técnicos, objetiva estabelecer uma Terceira Via Amazônica, uma “economia verde” estruturada sobre o alicerce de uma “floresta produtiva permanente”. O estudo “Amazônia e Bioeconomia – Sustentada em ciência, tecnologia e inovação” sublinha o potencial da Amazônia para adotar um modelo de desenvolvimento econômico que seja socialmente justo, baseado em novas tecnologias físicas, digitais e biológicas.

Esta proposta destoa das práticas tradicionais, como o isolamento total da floresta ou o uso intensivo dos recursos naturais. Em contrapartida, essa nova abordagem sugere um caminho de industrialização que respeite o equilíbrio ambiental e tire proveito das riquezas naturais e socioculturais da Amazônia.

A bioeconomia circular, que rompe com o tradicional esquema linear de fim-de-vida dos produtos, promove redução, reutilização, recuperação e reciclagem de materiais e energia, dissociando o crescimento econômico do aumento no consumo destes recursos. George Paulus, também coordenador técnico do estudo, enfatiza a importância de um novo modelo de desenvolvimento que assegure direitos básicos à população sem comprometer as gerações futuras.

O relatório evidencia a bioeconomia como um pilar para a reindustrialização do Brasil, exigindo uma indústria avançada e competitiva mundialmente que valorize a biodiversidade nacional. O estudo levanta reflexões pertinentes sobre o futuro da região amazônica sob a ótica populacional e de desenvolvimento sustentável, questionando o destino dos amazônidas e qual desenvolvimento eles desejam para sua terra. A estimativa é que em torno de 29,3 milhões de pessoas vivam hoje na Amazônia Legal brasileira, muitas das quais se encontram abaixo da linha da pobreza.

O pioneirismo do estudo do IE se manifesta ao organizar uma proposta abrangente que reúne diversas esferas de conhecimento em prol do desenvolvimento sustentável da Amazônia. Mais do que apenas englobar a biotecnologia, os biocombustíveis e a bioecologia, o estudo destaca os passos essenciais para a efetivação da bioeconomia na região, indo desde o reconhecimento de sua relevância estratégica para o país até o fortalecimento das instituições de pesquisa e ensino.

Apesar do Brasil possuir uma matriz energética relativamente menos poluente, os desafios se concentram na eliminação completa do desmatamento e inovações que visem à restauração florestal e à modernização das práticas agrícolas e pecuárias. Com uma história de sucesso como o Proálcool e o uso do etanol de cana-de-açúcar, o país está estrategicamente posicionado para liderar a transição para uma bioeconomia globalmente competitiva.

Esta transformação requer uma engajamento ativo na bioeconomia circular única da Amazônia, um movimento crucial que, segundo o estudo, pode colocar o Brasil em uma posição de vanguarda na economia sustentável mundial. Assim, o desafio não é apenas técnico ou económico, mas uma oportunidade de liderança estratégica em direção a um futuro mais justo e responsável.


Fonte: https://jornal.usp.br/ciencias/um-desafio-disruptivo-para-a-engenharia-brasileira/

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