Em uma comparação entre o investimento em fontes de energia renováveis e combustíveis fósseis na América Latina, parece que o setor petrolífero ainda é considerado uma aposta mais fácil e rentável. Apesar do potencial abundante em recursos hídricos, solares e eólicos, a região está rapidamente expandindo sua produção de combustível fóssil.
O exemplo mais recente vem do Suriname, que, sendo um dos três países do mundo que absorvem mais dióxido de carbono do que emitem, agora está no caminho para se tornar um produtor significativo de petróleo após a descoberta de quase 700 milhões de barris de petróleo pela empresa Total. Este anúncio foi recebido com entusiasmo pela população, com o presidente do país, Chan Santokhi, relatando um sentimento de esperança e um futuro promissor.
Guyana, país vizinho do Suriname, é outro exemplo dessa tendência na região, com uma previsão de crescimento do PIB de 37% para este ano, de acordo com o FMI, decorrente de um boom petrolífero offshore. Brazil também tem expectativas de beneficiar-se da mesma geologia que promete riquezas aos seus vizinhos, com a Petrobras planejando direcionar mais de 80% de seu investimento de capital em exploração de petróleo e gás.
Embora existe uma necessidade global de redução na dependência de combustíveis fósseis, especialistas apontam que parte dos projetos da América Latina possuem custos e intensidade de carbono inferiores à média mundial, o que ainda os torna relevantes no cenário energético atual. Com a demanda por petróleo eventualmente atingindo um platô e decrescendo lentamente, como algumas projeções indicam, países como Argentina e Venezuela seguem na expansão da produção de petróleo e gás, com a última vendo uma reviravolta na produção graças ao alívio parcial das sanções dos EUA.
Por outro lado, na contramão da tendência regional, a Colômbia, terceira maior produtora de petróleo da América Latina, está experimentando um declínio na produção e afastando-se de novas explorações de combustível fóssil. O presidente colombiano, Gustavo Petro, tem tomado medidas como aumento de impostos sobre o petróleo e proibição de novos contratos de exploração para afastar o país dos fósseis. Essa decisão já resultou em queda do investimento privado e em escassez de gás natural.
Um grande desafio para o crescimento do setor de energia renovável é o risco político, que tem interferido em projetos nesse setor na América Latina. Um exemplo disso foi o abandono de um grande projeto de parque eólico na Colômbia pela Enel, devido a protestos da comunidade local. Esse cenário ajuda a explicar por que apenas metade do investimento em energia na região neste ano está indo para renováveis, uma proporção levemente menor do que em 2019.
Em síntese, a região da América Latina ainda favorece o investimento em combustíveis fósseis como uma aposta de retorno seguro e elevado, mesmo diante das pressões globais para uma transição energética em direção a fontes mais limpas e renováveis.
Fonte: https://www.ft.com/content/afa423aa-9e28-4f4e-a9eb-f029df0a95a2