A revolução bioeconômica está batendo à porta e a Irlanda está em posição de se tornar uma líder neste campo emergente. Um exemplo dessa mudança é o “biobus”, um ônibus cor de laranja alimentado por óleo vegetal hidrotratado, que percorre o país até 17 de novembro para conscientizar a população sobre o tema e revelar a extensão da nossa dependência de produtos derivados do petróleo.
A bordo desse biobus, os visitantes se deparam com uma realidade surpreendente: uma vasta gama de produtos do nosso cotidiano, desde agentes de limpeza, tintas e cosméticos até travesseiros, tampos de mesa em acrílico e a maioria de nossas roupas e calçados, são baseados em petroquímicos. Christine Short, gerente de financiamento de pesquisa na BiOrbic, centro nacional de pesquisa em bioeconomia, destaca o impacto dessa descoberta para muitos que entram no biobus.
O conceito de bioeconomia se baseia na utilização de recursos naturais renováveis ou fontes bio-based de plantas, animais, fungos e micróbios. Esse modelo econômico, integrante da política europeia desde 2012 e da política governamental irlandesa desde 2018, está agora consolidado com o primeiro plano de ação da bioeconomia da Irlanda (2023-2025). Especialistas pontuam o desenvolvimento de bio-refinarias como uma etapa essencial para testar novos bio-produtos no mercado dentro de uma economia sustentável.
A Irlanda já exerce um papel de destaque na inovação com sustentabilidade, vantagem esta reforçada pela existência de indústrias agrícolas e marinhas de relevância global. Segundo Prof. Kevin O’Connor, diretor da BiOrbic, o país possui uma variedade de matérias-primas biomássicas, incluindo gramíneas e resíduos da indústria de laticínios, com potencial para avançar ainda mais nessa direção. No momento, a Irlanda encontra-se em posição intermediária na Europa em termos de bioeconomia, com França, Países Baixos e Dinamarca liderando.
O equilíbrio entre explorar materiais biológicos e manter a biodiversidade é um tema central nesse contexto. Por exemplo, há oportunidades de desenvolver colas e resinas a partir de resíduos florestais, mas sem comprometer a vitalidade ecológica das florestas. Na agricultura irlandesa, a pesquisa se concentra em extrair mais valor das proteínas das gramíneas, reduzindo a dependência de importações de soja da América do Sul.
O futuro da bioeconomia na Irlanda também contempla o estabelecimento de bio-refinarias multifuncionais, como o “national bioeconomy campus” em Lisheen, Co Tipperary. Este polo será essencial para que empresas possam testar e ampliar a produção de seus bio-produtos. Além disso, empresas como Tirlan (anteriormente Glanbia) já estão experimentando com subprodutos de proteína de soro de leite para criar alternativas bio-based a solventes e plásticos baseados em petróleo e conservantes artificiais em alimentos.
Embora a conscientização dos consumidores sobre produtos bio-based ainda esteja crescendo, um estudo do CircBio constatou que 93% dos consumidores preferem produtos bio-based em comparação com aqueles baseados em combustíveis fósseis, indicando um potencial mercado para esses produtos. A bioeconomia não apenas pavimenta o caminho para uma economia mais sustentável e circular, mas também serve como um catalisador para a inovação e o desenvolvimento de novos produtos em uma diversidade de setores.