O Brasil destaca-se no cenário internacional como um dos países mais bem posicionados para a produção em larga escala de hidrogênio de baixa emissão de carbono, um indicativo promissor para a transição energética rumo a uma economia de baixo carbono. As informações provêm de um estudo conduzido pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que avalia a viabilidade técnica do Brasil em produzir até 1,8 gigatonelada de hidrogênio por ano, a partir principalmente de energias renováveis.
Caracterizado como o combustível do futuro devido à sua relevância na redução das emissões de gases do efeito estufa (GEE), já associados ao aquecimento global e mudanças climáticas, o hidrogênio desponta como substituto em potencial dos combustíveis fósseis, especialmente em setores como transportes e indústrias de grande demanda energética.
Essa nova onda é endossada por um novo termo cunhado pela Agência Internacional de Energia (IEA): “hidrogênio de baixa emissão de carbono”. É uma nomenclatura alternativa que busca reformular o sistema de classificação por cores do hidrogênio, e que ganha a adesão do Programa Nacional de Hidrogênio (PNH2) do governo brasileiro.
O otimismo com a posição estratégica do Brasil no mercado de hidrogênio é palpável. Analistas e pesquisadores, como Ricardo Ruther, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), reforçam a importância das vantagens competitivas do Brasil, incluindo a abundância de fontes renováveis de energia, um mercado de energia organizado e dinâmico, além de uma significativa capacidade industrial e logística favorável, tendo em vista a proximidade com o mercado europeu.
A exploração de rotas variadas para produção do hidrogênio, abarcando desde a eletrólise da água com fontes renováveis até o uso de biocombustíveis, como o etanol, reflete uma diversidade técnica promissora. A exemplo disso, temos projetos robustos, como o do Centro de Pesquisa e Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI), que exploram a reforma a vapor do etanol e outras rota serviáveis através de investimentos milionários e parcerias estratégicas com grandes empresas e universidades.
Além disso, crescem no país as investidas nas chamadas hidrogênio verde (H2V), com processos de produção que não emitem ou emitem baixíssimo CO2. Iniciativas comerciais e experimentais, a exemplo das realizadas nos estados de Pernambuco, Bahia e Ceará, reforçam o engajamento do Brasil na produção deste combustível renovável, explorando inclusive o rico potencial eólico e solar da região Nordeste do país. Destacam-se ainda pesquisas avançadas que buscam solucionar desafios como a estocagem e transporte do hidrogênio.
Contudo, o país enfrenta desafios consideráveis para alavancar a produção em escala. As questões vão desde a redução do custo final do hidrogênio, diretamente influenciado pelo preço da energia elétrica renovável, até a necessidade de desenvolver a capacidade de eletrólise e aperfeiçoar eletrolisadores.
Existe consenso entre especialistas quanto à urgência de se estabelecer um marco regulatório e políticas públicas que incentivem a produção de hidrogênio de baixo carbono. Tal regulação é considerada fundamental para proporcionar estabilidade e atrair investimentos para um mercado ainda em estágio inicial no Brasil, mas com expectativas promissoras.
Diante desse cenário, a bioeconomia se depara com um imenso potencial de transformação energética, sustentada por iniciativas que pavimentam o caminho do hidrogênio sustentável. A integração entre pesquisa, investimento e regulamentação surge, portanto, como um tripé essencial para o Brasil consolidar-se como líder global nesse setor inovador e estratégico.
Fonte: https://revistapesquisa.fapesp.br/na-rota-do-hidrogenio-sustentavel/