A investigação científica não cessa de desdobrar as profundezas complexas dos ecossistemas terrestres e a interação entre microrganismos do solo e a diversidade florestal em escala global possui novos contornos, conforme revelado por um estudo recente publicado na revista Nature Communications Biology. O trabalho de uma equipe liderada por Camille Delavaux, do ETH Zurich, demonstra que os fungos do solo, especificamente os micorrízicos, podem desempenhar um papel significativo na configuração da diversidade florestal ao longo dos diferentes gradientes de latitude.
Compreender as florestas terrestres é perceber um gradiente marcado que vai do equador em direção aos polos. Florestas tropicais, localizadas próximas ao equador, exibem uma vasta gama de espécies, enquanto florestas situadas mais ao norte ou ao sul tendem a ter menos diversidade de espécies vegetais. Estudos anteriores indicaram que patógenos do solo, incluindo bactérias e fungos, contribuem para essa distribuição ao acumularem-se próximo de árvores adultas e afetarem o sucesso de seus jovens descendentes, fomentando assim a biodiversidade. Essa influência é mais notável em climas quentes e úmidos, enriquecendo a biodiversidade nas zonas equatoriais.
Porém, o estudo atual adiciona uma nova perspectiva a esse entendimento. Os fungos micorrízicos, que estabelecem uma relação mutualística benéfica com a maioria das raízes das plantas globais, parecem atuar de forma a contrabalançar os impactos dos patógenos. Duas classes principais desses fungos estão sendo consideradas: os ectomicorrízicos, que formam uma cobertura ao redor das raízes das plantas e possivelmente as protegem diretamente dos patógenos, sendo mais comuns em latitudes elevadas; e os arbúsculo-micorrízicos, que são prevalentes nas proximidades do equador e talvez ofereçam menos proteção contra patógenos, além de serem menos propensos a especialização com uma espécie de árvore específica.
O estudo encontrou evidências de que os fungos arbúsculo-micorrízicos promovem a diversidade, enquanto os ectomicorrízicos podem limitá-la, sugerindo que estes microrganismos podem ser determinantes na formação dos padrões de biodiversidade global das espécies de árvores. A pesquisa foi possível graças a uma rede global de parcelas florestais administradas pela Forest Global Earth Observatory (ForestGEO) da Smithsonian Institution, onde pesquisadores comprometem-se a inventariar as árvores de cinco em cinco anos, usando protocolos padronizados que incluem dados sobre a fauna silvestre, a microbiota do solo, entre outros.
A particularidade dos dois fragmentos florestais de cerca de 6,25 hectares cada, localizados no campus da University of Maryland, Baltimore County (UMBC), incluídos na rede em 2012, é exemplar da abrangência do estudo. Essas parcelas possuem uma notável diversidade de espécies por unidade de área, comparável até mesmo a algumas parcelas de florestas tropicais da rede, contribuindo para as pesquisas recentes sobre florestas urbanas lideradas por Matthew Baker, professor de geografia e sistemas ambientais da UMBC e co-autor do estudo.
O reconhecimento do papel que os fungos desempenham na estrutura global das florestas poderá constituir apenas o começo da compreensão de como os micróbios impulsionam os padrões de biodiversidade mundial. Estudos futuros planejam integrar os dados dos censos de árvores e gerar sequenciamento genético adicional dos micróbios, associando o microbioma à estrutura da comunidade vegetal. Este campo da ciência, ainda em seu estágio de aprendizado, promete expandir nossa compreensão sobre a diversidade dos micróbios do solo e sua distribuição planetária, segundo Baker.
Fonte: https://phys.org/news/2024-01-soil-fungi-global-gradient-forest.html