Fórum do BCE analisa mudanças estruturais e resposta da política monetária na zona do euro

O Fórum do Banco Central Europeu sobre Política Monetária, realizado entre os dias 30 de junho e 2 de julho de 2025 em Sintra, Portugal, reuniu autoridades monetárias dos principais bancos centrais do mundo, economistas e acadêmicos para discutir os desafios macroeconômicos mais urgentes da zona do euro. A ênfase do evento deste ano foi a adaptação a mudanças estruturais em curso, com foco em respostas de política diante de transformações nos mercados de trabalho, canais de transmissão monetária, finanças não bancárias e reorganização do comércio internacional.

Um dos temas centrais do encontro foi o impacto macroeconômico das mudanças recentes no mercado de trabalho europeu. No artigo apresentado por Benjamin Schoefer, da Universidade da Califórnia, Berkeley, foram discutidas as transformações na composição ocupacional e na dinâmica de salários na zona do euro. A análise destacou a crescente divergência entre países quanto à flexibilização das condições laborais e à resiliência do emprego, gerando novos desafios para os instrumentos convencionais de política monetária, sobretudo a taxa básica de juros.

Em outra sessão, o estudo apresentado por Paolo Surico e seus coautores da London Business School propôs uma abordagem centrada no consumo discricionário. O grupo argumenta que esse consumo — ou seja, o gasto de famílias com bens e serviços não essenciais — é o principal catalisador dos ciclos econômicos. Essa conclusão sugere que a efetividade da política monetária passa por sua capacidade de atingir diretamente os padrões de consumo das famílias, enfatizando a relevância de canais heterogêneos de transmissão monetária.

A expansão de intermediários financeiros não bancários, como fundos de investimento e companhias de seguros, também foi debatida. A pesquisa de Loriana Pelizzon, da Universidade Goethe de Frankfurt, alertou para os riscos sistêmicos dessa expansão. Ela apontou que, apesar de terem ganhado importância na intermediação de crédito, essas instituições operam fora do perímetro regulatório tradicional, o que potencializa instabilidades em momentos de aperto monetário.

A reconfiguração do comércio internacional foi o foco do trabalho coordenado por Ana Maria Santacreu, do Federal Reserve de St. Louis. O estudo documenta uma transição do modelo de integração global para um cenário de realinhamento estratégico motivado por considerações geopolíticas e de resiliência de cadeias produtivas. Isso impõe desafios à zona do euro, cuja economia é altamente integrada a fluxos comerciais globais, e pode demandar novas estratégias industriais e comerciais nos próximos anos.

Os debates do painel sobre heterogeneidade entre países da zona do euro enfatizaram as dificuldades em calibrar políticas monetárias únicas em contextos nacionais muito distintos. A divergência de níveis de dívida, produtividade e exposição a choques externos limita a efetividade de ações centralizadas, como as conduzidas pelo Banco Central Europeu.

Durante os três dias de evento, destacou-se ainda a entrega do Young Economist Prize, premiando doutorandos cujas pesquisas abordam diretamente os temas macroeconômicos e de regulação mais urgentes para o bloco europeu. Os finalistas apresentaram suas pesquisas em formato de sessões rápidas, no intuito de fomentar o diálogo entre jovens acadêmicos e formuladores de políticas públicas.

O encerramento do Fórum de Sintra ficou a cargo da presidente do BCE, Christine Lagarde, que ressaltou a urgência de respostas coordenadas frente às mudanças estruturais em curso. A dirigente alertou que as políticas monetárias precisarão ser mais sensíveis às peculiaridades de cada país e que a arquitetura financeira da zona do euro deve evoluir para lidar melhor com riscos emergentes fora do setor bancário tradicional.

A próxima edição do Fórum já está prevista para 2026, estipulando desde já o compromisso com o aprofundamento técnico e o debate estratégico sobre o futuro econômico da Europa em um contexto global em mutação acelerada.

Fonte: ECB Forum on Central Banking

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