A gestão administrativa de uma usina de beneficiamento de castanha-do-brasil, localizada em Tefé-AM, foi analisada em um estudo que revela avanços tecnológicos e desafios estruturais relevantes para a cadeia de valor extrativista na Amazônia. Com 17 anos de atividade e inserção nos mercados nacional e internacional, a usina Jutica Produtos da Amazônia apresenta um modelo de negócios baseado na cooperação com fornecedores extrativistas e na adoção de sistemas de controle como ERP e PCP.
Segundo os autores, os maiores ganhos ocorreram no beneficiamento e padronização dos processos. A empresa utiliza ferramentas que integram os setores internos e permitem decisões mais assertivas na produção. O uso de sistemas integrados (ERP) e de Planejamento e Controle da Produção (PCP) é citado como um diferencial que contribui para a eficiência organizacional e qualidade do produto final, voltado tanto ao mercado interno quanto à exportação.
Contudo, o estudo identifica algumas fragilidades significativas na gestão da logística e no controle de estoques, especialmente relacionadas à instabilidade no fornecimento da matéria-prima. A dependência da sazonalidade extrativista e as dificuldades de transporte fluvial durante o período de estiagem comprometem a previsibilidade dos fluxos produtivos e a regularidade na oferta de produtos.
Outro ponto de atenção é a centralização das decisões administrativas na figura do diretor geral, o que reduz a autonomia das equipes operacionais. A falta de planejamento estratégico sistemático e a ausência de mecanismos participativos de governança colocam limites à adaptabilidade da organização diante das demandas do mercado e das mudanças na cadeia produtiva.
A estrutura organizacional é considerada apenas parcialmente definida, e os programas de capacitação técnica dos colaboradores são inexistentes ou pontuais. Para os autores, essa lacuna impacta diretamente a qualidade das operações e limita o desenvolvimento técnico da equipe, fator crítico em cadeias produtivas especializadas.
Em termos comerciais, a presença digital da usina é avaliada como fraca. O site institucional está ativo, mas não há uma estratégia de e-commerce ou de marketing digital voltada à valorização da origem amazônica do produto. Segundo o estudo, esse é um ponto estratégico que poderia alavancar as vendas, agregar valor simbólico ao produto e diferenciar a marca em mercados mais exigentes.
Mesmo com esses desafios, o relacionamento com fornecedores se destaca como uma boa prática. A usina oferece apoio logístico, financeiro e técnico, e mantém uma rede de cerca de 50 fornecedores distribuídos entre Amazonas, Acre e Pará. Isso reforça o papel estratégico da empresa na articulação da cadeia extrativista, ao fomentar práticas sustentáveis e consolidar alianças com comunidades locais.
As recomendações do estudo apontam para a necessidade de descentralização da gestão, investimentos na formação de pessoal, maior articulação entre logística e planejamento estratégico e fortalecimento dos canais digitais. Os autores argumentam que essas medidas não apenas ampliariam a eficiência interna da usina, mas também poderiam gerar efeitos positivos sobre toda a cadeia produtiva, com impactos em renda, conservação florestal e inovação na bioeconomia amazônica.
Ao apresentarem um diagnóstico detalhado do funcionamento administrativo da usina, os pesquisadores fornecem subsídios para a formulação de políticas e práticas voltadas à profissionalização da gestão nas cadeias extrativistas. A castanha-do-brasil permanece como um vetor estratégico para o desenvolvimento sustentável da região, e a melhoria nos processos de gestão é vista como condição essencial para sua valorização de forma integrada e duradoura.