Alívio da Pobreza Extrema e Emissões de Gases de Efeito Estufa: Um Estudo Revelador
Em um artigo publicado na revista Nature, pesquisadores abordam um tema crucial: a relação entre o alívio da pobreza extrema e as emissões de gases de efeito estufa (GEE). A pesquisa, conduzida por Philip Wollburg, Stephane Hallegatte e Daniel Gerszon Mahler, traz uma perspectiva otimista: acabar com a pobreza extrema tem um impacto negligenciável nas emissões globais de GEE, uma descoberta significativa no contexto dos objetivos de desenvolvimento e climáticos mundiais.
O Dilema Consumo x Emissões: O estudo destaca como o crescimento do consumo é essencial para erradicar a pobreza extrema, ao mesmo tempo em que é um dos principais impulsionadores das emissões de GEE. Historicamente, a maioria da redução da pobreza ocorreu devido ao crescimento econômico, o que implica aumentar o consumo não só das pessoas em situação de pobreza, mas também daquelas com renda mais alta.
Utilizando a linha de pobreza internacional de US$ 2,15 por dia, os autores estimam as emissões associadas ao crescimento econômico necessário para aliviar a pobreza extrema. Surpreendentemente, mesmo seguindo os padrões históricos de intensidade energética e de carbono, o aumento das emissões globais associado ao alívio da pobreza extrema é modesto, representando 2,37 gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente por ano, ou 4,9% das emissões globais de 2019.
Crescimento Necessário para Erradicar a Pobreza Extrema: A pesquisa calcula quanto crescimento econômico é necessário para acabar com a pobreza extrema. Por exemplo, o crescimento do PIB per capita necessário varia de 0% a quase 600%, dependendo do país. Países não pobres, com taxas de pobreza extrema abaixo de 3%, não requerem crescimento adicional.
Ligação entre Crescimento Econômico e Emissões: O estudo estabelece uma relação entre o crescimento do PIB per capita e o consumo de energia e, consequentemente, as emissões de GEE. A análise revela que, em média, um crescimento de 1% no PIB per capita leva a um aumento de 1% no consumo de energia. A pesquisa também considera emissões de GEE não relacionadas à energia, mas não encontra uma associação significativa entre o crescimento do PIB e essas emissões.
Reduzindo a Tensão entre Desenvolvimento e Clima: A pesquisa indica que, mesmo seguindo os padrões históricos de intensidade energética e de carbono, aliviar a pobreza extrema não afeta significativamente o desafio das mudanças climáticas. O estudo sugere que a questão não está em reconciliar o alívio da pobreza extrema com os objetivos climáticos, mas sim em proporcionar padrões de vida sustentáveis de classe média enquanto se contém o aquecimento global.
Políticas para Alinhamento de Objetivos: Os autores argumentam que aliviar a pobreza extrema pode ser considerado uma prioridade, sem prejudicar os esforços de mitigação das mudanças climáticas. Eles enfatizam a necessidade de políticas que reduzam as intensidades energética e de carbono, além de diminuir as desigualdades.
Conclusões e Limitações: O artigo reconhece as limitações de seu modelo, enfatizando que a estrutura é simplificada e baseada em padrões históricos. Os resultados quantitativos podem variar, mas as conclusões qualitativas são robustas. Além disso, os autores discutem as implicações para a ação global, ressaltando a necessidade de políticas coordenadas para alcançar simultaneamente os objetivos de desenvolvimento e climáticos.
Implicações para a Bioeconomia: Este estudo é fundamental para profissionais da bioeconomia, pois fornece insights valiosos sobre como as estratégias de desenvolvimento podem ser alinhadas com objetivos ambientais. As descobertas ressaltam a importância de abordagens inovadoras e sustentáveis na bioeconomia para alcançar um futuro mais próspero e ecológico.
Fonte: Wollburg, P., Hallegatte, S. & Mahler, D.G. Ending extreme poverty has a negligible impact on global greenhouse gas emissions. Nature 623, 982–986 (2023). https://doi.org/10.1038/s41586-023-06679-0