O Ministério do Meio Ambiente do Brasil prepara-se para sediar, no final de setembro, um seminário internacional de elevada importância. O principal objetivo é delinear caminhos para a incorporação do capital natural nas decisões financeiras estratégicas. Este evento, que se dá no contexto das atividades do Grupo de Trabalho de Sustentabilidade Ambiental e Climática do G20, representa um avanço significativo na tentativa de unir o valor dos ativos ambientais à alocação de capital, gestão de riscos e avaliação de investimentos.
Esta iniciativa coloca em evidência uma virada silenciosa, mas significativa, na diplomacia financeira internacional, destacando o papel central que o tema do capital natural tem assumido na governança econômica global. Discussions que, anteriormente, poderiam causar espanto nos círculos de banqueiros centrais, agora ocupam lugar destaque. De fato, os impactos da biodiversidade na economia tornaram-se um assunto correlacionado com as principais esferas de discussão ambiental e financeira mundial.
Destaca-se uma citação memorável de François Villeroy de Galhau, presidente do Banque de France, que reiterou que o consenso alcançado no concernente às implicações financeiras relacionadas à natureza não é apenas científico, mas essencial para encurtar a lacuna de conhecimento sobre tais questões. A ênfase está em tratar essa questão como uma fundamental para a economia, sublinhando que a degradação ambiental é um problema que os BCs precisam ter em seus radares.
Vale notar que o presidente do Banco Central da Holanda reforçou que questões ambientais, como a destruição da biodiversidade, estão cada vez mais inseridas nos mandatos dos bancos centrais, reforçando a responsabilidade dessas instituições na estabilidade financeira mundial. Esse reconhecimento advém de vetores críticos que afetam a natureza, como a mudança do uso da terra, pesca predatória, mudanças climáticas, e poluição.
Um estudo francês demonstrou a “pegada de biodiversidade” que instituições financeiras têm através de suas atividades, sugerindo que os danos são significativos o bastante para serem comparados a um quarto da área das cidades francesas. Como resultado, a discussão sobre os riscos ambientais se expande, obrigando uma revisão das obrigações dos bancos centrais assim como ocorreu com questões climáticas na última década.
Quando se fala em transmissão dos riscos ambientais nas esferas financeiras, o tema se torna não apenas relevante, mas urgente. Isso inclui tanto os riscos físicos – por eventos catastróficos diretos – quanto os riscos de transição que podem ser ainda mais preocupantes por suas consequências sistêmicas aceleradas.
A busca pela inclusão dos riscos ambientais nas normas financeiras não é nova, mas é preciso acelerar os modelos e testar de forma sofisticada os sistemas econômicos em relação a esses choques. Além disso, a extensão dos estudos para englobar a erosão do capital natural e a perda de biodiversidade são etapas inevitáveis.
A NGFS (Network of Central Banks and Supervisors for Greening the Financial System), criada por alguns bancos centrais em 2017, é um marco no avanço destes estudos, incentivando práticas sustentáveis entre os seus membros. Em 2022, a entidade deixou claro em seu relatório que os riscos relacionados à natureza podem ter severas implicações macroeconômicas, evidenciando a urgência de um melhor entendimento desses complexos modelos integrados.
Mas, a transição não é simples. Enquanto é cada vez mais claro que os mandatos dos bancos centrais devem englobar a estabilidade ambiental, a estabilidade econômica clássica e o emprego seguem como metas essenciais. Uma política de juros baixos e estáveis se mostra crucial para fomentar investimentos, impulsionando passos em direção a uma economia de baixo carbono.
Assim, o equilíbrio entre crescimento e preservação ambiental se destaca como prioridade para todos os agentes. A clareza nas informações direcionadas ao mercado e a coerência nas políticas climáticas são também fundamentais neste processo. Cabe aos bancos centrais não apenas acompanhar, mas também atuar efetivos coautores neste drama da economia global.
Fonte: https://capitalreset.uol.com.br/opiniao/por-que-os-bcs-precisam-olhar-para-a-natureza/