Desafio da recuperação vegetativa no Brasil: um debate de sustentabilidade e negócios

À luz do Dia Nacional de Conservação do Solo, emerge uma pauta de extraordinária relevância para o futuro ecológico do Brasil: a urgente necessidade de recuperar 25 milhões de hectares de vegetação nativa. O marco assinala um momento crítico para a nação, que enfrenta o desafio de cumprir a meta estabelecida de regenerar 12 milhões de hectares até 2030, mas até agora, alcançou menos de 1% do objetivo, conforme indica o Observatório da Restauração e do Reflorestamento.

O diagnóstico atual, feito pela MapBiomas, de que o país perdeu 9,6 milhões de hectares de vegetação nativa entre 2019 e 2022 reforça a necessidade de acelerar a restauração florestal. Esta condição é agravada pelo avanço significativo do desmatamento e da degradação nos biomas brasileiros. Com a revisão governamental das políticas públicas em andamento desde janeiro de 2023, esboça-se uma estratégia multifacetada para superar esses desafios ambientais e legais.

As implicações deste cenário estendem-se além das fronteiras brasileiras, tendo em conta a busca global por reduzir as emissões de gases de efeito estufa e a necessidade de capturar carbono já presente na atmosfera. A recuperação de vegetações nativas é uma peça chave nesta estratégia, uma vez que, conforme estudo publicado na revista Nature, a restauração de 15% de áreas naturais pode significar a absorção de 14% das emissões históricas de dióxido de carbono pós-Revolução Industrial.

Em território nacional, a legislação ambiental estabelecida, incluindo o Código Florestal e a Política Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg), delineia um caminho robusto para a recuperação e compensação de áreas impactadas. A estrutura normativa requer que propriedades privadas e áreas públicas comprometidas por fatores humanos ou naturais, sejam reflorestadas, protegendo assim nossa biodiversidade.

Uma das táticas recomendadas em prol da restauração é a regeneração natural, que pode ser estimulada ou acontecer espontaneamente, sendo a alternativa de menor custo. Outra abordagem envolve a silvicultura e sistemas como o agroflorestal e a integração lavoura-pecuária-floresta, que equilibram recuperação ambiental com subsistência.

O caso de sucesso de uma empresa de madeira sustentável no sul da Bahia ilustra como a restauração de ambientes degradados pode também se traduzir em um modelo de negócio lucrativo e benéfico. Além de ajudar na reconstituição da Mata Atlântica, este empreendimento oferece um ponto de luz sobre como a recuperação da vegetação nativa pode se aliar à viabilidade econômica. O World Resources Institute (WRI) Brasil comprovou que o retorno sobre esse tipo de investimento pode variar entre 9,5% e 28,4%, ademais dos benefícios ecológicos e na resiliência das produções frente às mudanças climáticas.

O fortalecimento da agenda de recuperação passa também pelo fomento de iniciativas como linhas de financiamento e crédito, articuladas entre o Ministério do Meio Ambiente e parceiros como o BNDES. Projetos como o Restaura Amazônia já articulam consideráveis recursos para essa finalidade. A expectativa é de que a atualização da Planaveg, prevista para junho, juntamente com as demais políticas públicas, possa impulsionar a recuperação de vegetação nativa e a regularização ambiental. Essas iniciativas sublinham uma verdade inegável: a engenharia da bioeconomia brasileira move-se não só para cumprir metas legais, mas para abrir caminhos em direção a um futuro mais sustentável e economicamente estável para todos os biomas do país.


Fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br/Brasil-precisa-recuperar-25-milh%C3%B5es-de-hectares-de-vegeta%C3%A7%C3%A3o-nativa

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