Diante dos alarmantes eventos climáticos extremos e incêndios na Amazônia, um especialista no setor ambiental aponta a falta de preparo do Brasil para enfrentar tais desafios. A situação acende um alerta sobre a capacidade de resposta do país frente às consequências das mudanças climáticas, com base em uma entrevista com Marina Grossi, economista e especialista em sustentabilidade.
O primeiro ano de gestão ambiental sob o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstra um avanço rumo a uma política ambiental mais efetiva, sinalizado pela considerável redução nos índices de desmatamento na Amazônia. Dados do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), evidenciam uma queda de 49,7% no período de janeiro a novembro, em comparação com o ano anterior. Os números do Prodes, também do Inpe, confirmam um declínio de 22% no desmatamento entre agosto de 2022 e julho de 2023. A nova liderança do Ministério do Meio Ambiente, no comando de Marina Silva, contribuiu para os resultados positivos.
Segundo Grossi, o país ainda está distante de estar preparado para lidar com eventos climáticos extremos que têm se tornado cada vez mais comuns. Situações recentes de enchentes no Sul e secas na Amazônia expuseram a ineficiência das medidas de resposta à crise, levantando o questionamento acerca das estratégias de prevenção e adaptação por parte do governo federal.
Ademais, Grossi ressalta o imperativo de desenvolver políticas nacionais de transição energética, fortalecer incentivos à bioeconomia e avançar na área de rastreabilidade, enquanto busca-se a redução de polarizações acerca da agenda climática. O especialista aponta que o tema deve ser compreendido como uma pauta de Estado, acima de divisões ideológicas, focando em consensos que possam unir diferentes forças no caminho do desenvolvimento sustentável.
Ainda neste contexto, o cenário internacional exerce influência nas decisões internas. Na Conferência do Clima das Nações Unidas (COP-28), ocorrida em Dubai, um acordo sobre a transição para o fim dos combustíveis fósseis foi assinado, enquanto o Brasil também anunciava sua entrada na Opep+. Esta atitude aparentemente contraditória reflete a complexidade e os desafios que o país enfrenta na conciliação de sua política ambiental com as necessidades econômicas e energéticas.
Com o olhar voltado para o futuro, Grossi vislumbra que o país terá a COP-30 em Belém como uma oportunidade para consolidar sua posição na vanguarda da questão ambiental.
Por fim, é enfatizado que a governança ambiental ganhará eficácia da transparência, adoção de melhores práticas e inovação. O caminho à frente demanda conscientização governamental, desbloqueio de financiamentos ambientais e estruturação de órgãos competentes para combater não apenas o desmatamento, mas também para desenvolver alternativas econômicas sustentáveis, enquanto o Brasil se prepara para um papel de liderança ambiental no cenário global.