Com a escalada das ações climáticas, a integração entre sustentabilidade e mercado financeiro vem sendo fortemente desafiada. Em uma recente análise, fica evidente que, apesar do aumento expressivo de processos judiciais voltados para o meio ambiente e assuntos socioambientais, há ainda um descompasso significativo entre a atuação das empresas e a precificação dos riscos ambientais pelo setor financeiro.
O incremento no número de processos de litigância climática é notável, passando de 884 em 2017 para 2.180 ao final de 2022. Os sinais são claros de que os custos ambientais da produção, o que chamamos de ‘custos ocultos’, estão atingindo um patamar que inevitavelmente impactará as finanças empresariais. Entretanto, uma avaliação minuciosa demonstra que a consideração desses riscos nas estratégias de investimento ainda está longe de ser efetiva.
Por exemplo, segundo o reporte ‘Insurance Disaster 2024’, mesmo empresas globais de seguro, que administram ativos correspondentes a uma fatia substancial do PIB mundial, persistem em realizar investimentos em setores altamente poluentes, como a exploração de combustíveis fósseis, potencialmente subestimando os respectivos riscos ambientais e sociais.
Do lado regulatório, medidas como a proibição da presença de substâncias perfluoroalquiladas, ou PFAS, em águas que abastecem milhões de pessoas, sinalizam um movimento de restrições mais severas contra a poluição química. O custo da limpeza dessa contaminação nos EUA é estimado em bilhões de dólares, com municípios buscando que indústrias químicas se responsabilizem por esses danos.
Essa tendência também é sentida na justiça corporativa. O exemplo da Bayer, que viu os custos de litigância superarem os dividendos distribuídos aos acionistas, ilustra bem como a destruição socioambiental pode impactar as finanças empresariais diretamente nos balanços contábeis.
Estas movimentações, no entanto, colocam em debate questões críticas como: Os mercados estão calculando corretamente os riscos associados às atividades de corporações que negligenciam questões ambientais e de saúde pública?
A preocupação se estende também ao setor alimentício. Investidores institucionais da Nestlé, por exemplo, se alarmam ao constatar a dependência da empresa de produtos ultraprocessados, itens que impulsionam uma pandemia global de obesidade, apontando para a necessidade de um redirecionamento para produtos saudáveis.
No contexto de assembleias de acionistas, observa-se uma alta histórica no número de propostas socioambientais. No entanto, o apoio a estas medidas tem diminuído nos últimos anos. A questão que se coloca é se o rigor dos reguladores financeiros como a SEC, em tornar obrigatória a exposição dos riscos climáticos e de saúde para investidores, é suficiente para sensibilizar os mercados financeiros quanto à necessidade urgente de um ajuste nos padrões produção e consumo, em favor de uma transformação ecológica do sistema econômico.
Fonte: https://ricardoabramovay.com/2024/04/mercados-avaliam-bem-os-riscos-socioambientais/