Brasileiros inovam com teias de aranha para monitorar microplásticos

Pesquisadores brasileiros estão utilizando teias de aranha em uma inovadora abordagem para estudar a poluição por microplásticos no ar. Este método, que se beneficia das propriedades adesivas naturais das teias, foi adotado por cientistas do Laboratório de Biologia Costeira e Análises de Microplásticos da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). O estudo liderado pela bióloga Mércia Barcellos da Costa é um passo significativo na detecção desses contaminantes atmosféricos, demonstrando como a natureza pode ser uma aliada eficiente e de baixo custo em pesquisas ambientais.

O uso de microssampladores caros para medir a presença dessas partículas na atmosfera é uma prática comum, mas muitas vezes limitante, principalmente em países em desenvolvimento. No entanto, as teias de aranha fornecem uma solução alternativa, capturando microplásticos que estão suspensos no ar graças às propriedades adesivas das suas proteínas. Esta abordagem, já validada por pesquisadores alemães, mostrou-se promissora no campus da Ufes, onde as amostras coletadas confirmaram a disseminação ubíqua dos microplásticos.

Os resultados são preocupantes: todas as 30 amostras de teias analisadas continham microplásticos, evidenciando a presença generalizada desses agentes contaminantes no ambiente. Este achado está alinhado com descobertas internacionais que apontam para a presença dessas partículas tanto em locais remotos do oceano quanto em tecidos humanos, como no cérebro e nos pulmões.

Além dos próprios riscos que os microplásticos representam à saúde, sua capacidade de absorver outros poluentes atmosféricos e transportá-los para dentro de organismos vivos é uma preocupação crescente. Esses contaminantes podem intensificar o risco de intoxicações, uma vez ingeridos pelos seres vivos.

Um aspecto intrigante do estudo de Mércia Barcellos é o foco na reciclagem de plásticos, que revelou-se uma fonte significativa de microplásticos atmosféricos. Durante a investigação, foi observado que a usina piloto de reciclagem no campus, que tritura e transforma rejeitos plásticos em resina, liberava partículas minúsculas no ar, contribuindo para a poluição microplástica. Essa descoberta ressalta um paradoxo: enquanto a reciclagem aborda a questão dos resíduos sólidos, ela também gera microplásticos, um subproduto indesejado e potencialmente perigoso.

Os pesquisadores sugerem que a solução passa pela drástica redução do uso de plásticos, especialmente os de uso único como sacolas, embalagens e garrafas descartáveis. Embora eliminar totalmente os plásticos da sociedade moderna pareça impraticável, a limitação de seu uso pode mitigar a propagação desses poluentes invisíveis.

O trabalho na Ufes exemplifica o potencial de aliar ciência e soluções naturais à investigação e gestão de poluentes modernos, como os microplásticos. Este método não é apenas uma forma inovadora de coletar dados, mas também um chamado urgente para políticas de mitigação que cruzam fronteiras entre saúde pública, sustentabilidade e tecnologias de reciclagem. A pesquisa brasileira, agora publicada no Journal of Hazardous Materials, destaca-se como uma contribuição vital no combate a um dos desafios ambientais mais inquietantes da atualidade.


Fonte: https://veja.abril.com.br/coluna/almanaque-de-curiosidades/brasileiros-usam-teia-de-aranha-para-estudar-poluicao-por-microplasticos

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