Besouros luminescentes do Cerrado: entre o brilho e a extinção

Um alerta vermelho para a biodiversidade ecoa do Cerrado brasileiro, onde pesquisas apontam um preocupante declínio nas populações de besouros bioluminescentes, em grande parte devido à expansão da agricultura e à intensificação da iluminação artificial. Essa queda não representa apenas um risco para a diversidade biológica, mas também limita oportunidades científicas e tecnológicas que envolvem a utilização da bioluminescência.

Levantamentos realizados desde a década de 1990 indicam uma redução na biodiversidade à medida que a fronteira agrícola avança no entorno do Parque Nacional das Emas. Há uma diminuição acentuada nas espécies com potencial biotecnológico, e algumas estão até desaparecendo. Onde antes havia uma visão espetacular de montes de cupins iluminados por larvas de besouros clique (Pyrearinus termitilluminans), agora, com a presença dominante do cultivo de cana-de-açúcar nessas áreas, tais fenômenos tornaram-se raros.

O estudo que trouxe tais descobertas foi apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), com resultados publicados na revista Annals of the Entomological Society of America. Dentre os autores, destaca-se o professor Vadim Viviani, da Universidade Federal de São Carlos, que acompanhou a transformação do habitat desses besouros ao longo de três décadas, juntamente com seu orientador e outros colaboradores, que são autoridades na taxonomia da super família Elateroidea.

A pesquisa catalogou 51 espécies, sendo a maioria vaga-lumes (Lampyridae) e também besouros clique (Elateridae) e vermes ferroviários, ou vermes brilhantes (Phengodidae), que conseguem emitir luzes de cores diferentes simultaneamente. Além do Parque Nacional das Emas, outras áreas no estado de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul foram pesquisadas, identificando a diversidade desses besouros em diferentes contextos do bioma, assim como os impactos da agricultura intensiva e da luz artificial.

Notavelmente, a ausência de larvas de vermes ferroviários nas expedições recentes salienta a gravidade do impacto antrópico. A bioluminescência desses besouros possui grande valor biotecnológico, possibilitando aplicações em pesquisa científica, medicina, indústria e gestão ambiental, pois a luz fria produzida por eles facilita diversos processos analíticos. O grupo de pesquisa liderado por Viviani é pioneiro em isolar e clonar luciferases, enzimas essenciais no processo de bioluminescência desses insetos, para diversos usos tecnológicos, sendo uma parte significativa das mesmas importadas atualmente.

Ao considerar o Cerrado não apenas como um conjunto de arbustos, mas como um repositório hídrico vital para a precipitação e lar de espécies exclusivas, a pesquisa ressalta a riqueza que ainda temos e o risco de perdermos tal tesouro. O professor Viviani enfatiza a importância de ações e estudos subsequentes para enfrentar essa situação, realçando como a extinção dessas espécies bioluminescentes não é apenas uma perda ecológica, mas também diminui as oportunidades tecnológicas e econômicas que esses seres oferecem.


Fonte: https://scitechdaily.com/bioluminescent-brink-brazils-battle-to-save-its-glowing-beetles/

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