Aumenta o desmatamento global apesar de compromissos ambientais

O aumento do desmatamento global, destacado na Avaliação da Declaração Florestal de 2024, acende um sinal de alerta em relação a compromissos ambientais assumidos por mais de 140 países para frear a degradação florestal até 2030. O relatório aponta que 6,37 milhões de hectares de florestas foram perdidos em 2023, um dado alarmante que vai na contramão dos esforços globais para proteger os ricos ecossistemas florestais do planeta.

As florestas tropicais primárias, que são fundamentais para o sequestro de carbono e preservação da biodiversidade, perderam 3,7 milhões de hectares em 2023, um desvio de 38% do rumo esperado para atingir a meta de proteção até 2030. Este desajuste representa uma ameaça direta não apenas ao clima, mas à sobrevivência de milhares de espécies e comunidades que dependem dessas florestas.

A situação torna-se ainda mais complexa quando fatos como o aumento do desmatamento na Bolívia e o ressurgimento dessa prática na Indonésia colocam em xeque os avanços conquistados em anos anteriores. A Bolívia destaca-se pela expansão da produção de soja e de novos assentamentos, enquanto a Indonésia tem sua floresta ameaçada pela crescente demanda por níquel, combustível essencial para baterias de veículos elétricos.

No entanto, em meio a esse cenário desanimador, o Brasil se sobressai com um resultado paradoxal. Enquanto o País continua a liderar em termos absolutos de área desmatada, houve uma significativa redução de 62,2% no desmatamento da Amazônia em relação a 2022, indicando uma mudança na direção correta. Mesmo assim, o desafio é grande, e os recentes incêndios florestais no Brasil se intensificaram, com um aumento de 104% nos primeiros sete meses de 2024 comparado ao ano anterior, afetando mais de 5,7 milhões de hectares.

Além da proteção contra o desmatamento, a degradação florestal emergiu como um preocupante ator coadjuvante no relatório de 2024. Pelo menos 62,6 milhões de hectares de florestas foram degradados, refletindo uma perda significativa de integridade ecológica e capacidade desses ecossistemas em fornecer serviços essenciais, como limpeza do ar e proteção contra deslizamentos de terra.

O impacto dessas perdas é ainda mais severo em zonas de ricos hábitats de biodiversidade e em florestas essenciais para comunidades indígenas. O relatório revela que mais de 1,4 milhão de hectares nessas áreas foram perdidos, levantando sérias preocupações sobre a proteção dessas zonas críticas.

Erin Matson e Ivan Palmegiani, consultores sêniores envolvidos no relatório, enfatizam que a proteção florestal é vulnerável a mudanças nas prioridades políticas e econômicas, mas também vislumbram oportunidades em momentos de transição política para renovar compromissos e práticas sustentáveis. A integridade e a proteção das florestas não devem depender apenas de ventos políticos favoráveis; é preciso um comprometimento de longo prazo por parte das nações, para além dos caprichos de governos individuais ou conjunturas econômicas mundialmente oscilantes.

Dentro desse contexto desafiador, o relatório sugere uma mudança de paradigma global para valorizar e restaurar ecossistemas florestais. Além de investimentos e políticas locais em restauração de florestas, é crucial que as nações mais desenvolvidas ajustem seus hábitos de consumo e ajudem financeiramente os países com vastas áreas florestais na adoção de novos modelos de desenvolvimento sustentável.


Fonte: https://pagina22.com.br/2024/10/08/florestas-sob-fogo/

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