Uma pesquisa recente, realizada em Belize, oferece uma nova perspectiva sobre a agricultura de corte-e-queima, prática comum em sociedades indígenas. Ao contrário do que se acreditava anteriormente, essa técnica agrícola pode, na verdade, aumentar a diversidade de plantas em florestas tropicais. O estudo, publicado na Communications Earth & Environment, examinou duas aldeias Q’eqchi’ Maya no sul de Belize, cobrindo uma área de aproximadamente 18.000 acres no Distrito de Toledo.
A pesquisa revelou que, em áreas da floresta tropical onde os agricultores indígenas criaram áreas de cultivo de tamanho intermediário, houve um aumento na diversidade de plantas florestais. Este resultado desafia a visão anterior que identificava a prática como uma causa significativa de desflorestamento global.
Na pesquisa, foi utilizado o sensoriamento remoto por drones, equipados com sensores multiespectrais, para analisar a área de estudo. Os sensores captaram pequenas variações na luz refletida pelas árvores e outras plantas, indicando uma maior diversidade no dossel florestal – o que os cientistas chamam de diversidade espectral. As imagens de alta resolução obtidas pelos drones permitiram uma análise detalhada da biodiversidade que não está disponível por meio de satélites.
A prática de corte-e-queima envolve a limpeza de uma seção da floresta para agricultura e a queima das árvores cortadas para devolver nutrientes ao solo. Após alguns anos de cultivo, a terra é deixada para retornar ao seu estado natural, enquanto uma nova parcela é utilizada para a agricultura. Esta abordagem cria aberturas na floresta que permitem a entrada de luz solar, possibilitando o crescimento de outras espécies vegetais e, consequentemente, aumentando a diversidade no bosque.
O estudo também destacou a importância do tamanho das áreas limpas. Áreas muito pequenas não proporcionam oportunidades suficientes para o crescimento de plantas raras, enquanto áreas muito grandes podem eliminar os bancos de sementes necessários para o retorno dessas espécies. Assim, as áreas de tamanho intermediário são essenciais para maximizar a biodiversidade.
Estes resultados são especialmente significativos no contexto atual, onde a agricultura indígena está sendo cada vez mais focada em discussões sobre mudanças climáticas. A pesquisa sugere que regulamentações externas rígidas sobre a agricultura de corte-e-queima podem não ser a abordagem ideal. Em vez disso, é importante apoiar práticas e instituições que, embora possam parecer distantes da conservação, são cruciais para as culturas e meios de subsistência indígenas.
O estudo conclui que comunidades indígenas, apoiadas por suas práticas e normas culturais, são capazes de manter um nível intermediário de perturbação nas florestas que favorece ou até mesmo aumenta a biodiversidade.
Fonte: Sean S. Downey et al, An intermediate level of disturbance with customary agricultural practices increases species diversity in Maya community forests in Belize, Communications Earth & Environment (2023). DOI: 10.1038/s43247-023-01089-6