A Terra precisa de uma bioeconomia amazônica por Robert Muggah, Tatiana Schor and Ilona Szabó

Um recente relatório revela uma necessidade urgente de reimaginar modelos econômicos na Amazônia para combater duas crises simultâneas: as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade. A grande preocupação levantada por especialistas é que seis dos nove principais limites planetários já foram violados, evidenciando a iminente ameaça aos ecossistemas vitais do planeta.

A região amazônica, que abrange mais de 8 milhões de quilômetros quadrados e é conhecida por ser a maior floresta tropical do mundo, encontra-se na linha de frente desta batalha. Lá, crimes ambientais como grilagem de terras, mineração ilegal de ouro e atividades extrativas intensas conduzem a uma realidade assustadora: 26% da região já foi afetada pelo desmatamento ou grave degradação, com sérias consequências para mais de 10.000 espécies de plantas e animais, além de impactos devastadores no clima global e na estabilidade de correntes oceânicas.

Diante deste cenário, a proposta é alternar o foco da economia extrativista para uma abordagem de bioeconomia. Este modelo promissor engloba práticas de agricultura, pecuária e pesca regenerativas; exploração sustentável de produtos madeireiros e não madeireiros; produção de energia verde e renovável; desenvolvimento de biomateriais sustentáveis; ecoturismo; moda e têxteis sustentáveis; e serviços baseados em captura de carbono e conservação ambiental.

A pressão pública por modelos sustentáveis está aumentando, principalmente com eventos como a Conferência Pan-Amazônica sobre Bioeconomia realizada em Belém, Brasil. Estima-se que a adoção integral dessa abordagem poderia gerar 284 bilhões de dólares anuais ao Brasil e reduzir significativamente as emissões de dióxido de carbono.

Entretanto, para que essa visão bioeconômica se torne uma realidade, é necessário um investimento em pesquisa e desenvolvimento, infraestruturas adequadas e novas cadeias de abastecimento resilientes. Também é fundamental a proteção da propriedade intelectual relacionada a bioprodutos e a implementação de uma estratégia participativa e respeitosa com as comunidades indígenas.

Existe atualmente uma disparidade de entendimento em relação ao que realmente se enquadra no conceito de bioeconomia. As definições variam significativamente entre os oito países que compartilham a floresta Amazônica e as perspectivas de governos e ONGs na América do Norte e Europa Ocidental. Evidenciando essa variação, o Instituto Igarapé firmou parceria com o programa Amazônia Forever do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) visando expandir uma bioeconomia regionalmente adaptada e respeitosa da diversidade local.

Especificamente na região amazônica, o BID lidera esforços para promover e acelerar bioeconomias, oferecendo suporte financeiro e técnico a startups, bioempresas e produtores. Ainda assim, a harmonização das definições é crucial para o desenvolvimento de uma base coerente para um futuro verde sustentável.

Países como o Brasil e a Colômbia mostram progresso significativo com políticas robustas e bem direcionadas. Enquanto isso, outros países ainda estão em fases iniciais ou resistem à adoção do termo. Competições entre lobbies e definições divergentes ameaçam o aproveitamento de oportunidades de financiamento para projetos alinhados à bioeconomia.

No final, a transformação rumo a modelos ecológicos de produção não é apenas estratégica; trata-se de uma questão de sobrevivência. A bioeconomia aparece como um caminho promissor, capaz de harmonizar o desenvolvimento econômico com proteção ambiental, mas para isso, é necessário consciência global e investimentos direcionados e pacientes para se alcançar o extraordinário potencial que a natureza oferece.


Fonte: https://www.project-syndicate.org/commentary/unified-amazon-bioeconomy-needed-to-save-the-planet-by-robert-muggah-et-al-2023-11/portuguese

Compartilhar