A Europa tem se dedicado ao crescimento da sua bioeconomia azul, englobando setores ligados à alta química e materiais processados a partir de organismos marinhos, que desempenham papel crucial na descarbonização regional. Avaliando as políticas da UE e os desafios enfrentados nesta expansão, percebe-se que a bioeconomia azul, subsetor da economia azul, utiliza biomassa marinha tanto para extração primária quanto para criar novos bioprodutos para mercados industriais e consumidores. Até 2022, apenas 35 biorrefinarias na Europa utilizavam matérias-primas marinhas, com 51% delas em operação comercial.
Apesar de representar uma fração menor da bioeconomia europeia, o ramo atraiu investimentos significativos, somando 800 milhões de euros em três anos, investimentos esses direcionados pela UE e firmas de capital de risco, reconhecendo o potencial menos explorado dos ecossistemas marinhos em comparação com os terrestres. A bioeconomia azul é valorizada no Pacto Verde Europeu (European Green Deal), que objetiva práticas sustentáveis nos setores marítimos.
O interesse da UE em biotecnologia azul é destacado pela iniciativa de financiamento ‘BlueInvest’, assim como o novo Fundo BlueInvest, incentivando a inovação e o investimento em tecnologias sustentáveis. Mais diretamente, o foco tem se dado no setor de algas, este recebendo atenção especial dos investidores e formuladores de políticas, o que se reflete no maior fundo de bioeconomia da Europa, o Circular Bio-based Europe, convocando projetos que utilizem microalgas sustentáveis.
Enormes organizações, como a Iniciativa de Algas da UE, têm o propósito de fomentar o uso de biomassa de algas marítimas, dando ênfase à produção sustentável. Iniciativas como EU4Algae, visando a criação de redes de colaboração para fortalecer o setor baseado em algas, ilustram essa orientação. A Associação de Biomassa de Algas da Europa (European Algal Biomass Association – EABA), desde 2009, também desempenha papel relevante na avaliação de novas aplicações para produtos à base de algas.
Contudo, a expansão da bioeconomia azul não está isenta de desafios. O estudo de viabilidades para espaços marinhos protegidos e a produção em massa de algas entram em conflito com as metas de proteção à biodiversidade estabelecidas pela UE. A Europa visa designar 30% de suas áreas marinhas para proteção da biodiversidade até 2030. Como conciliar tal objetivo com o aumento da demanda por recursos marinhos é um dos dilemas centrais.
As consequências ambientais da aquicultura de algas são preocupantes, especialmente se pensarmos na escala pretendida pelas políticas verdes da UE. Discussões giram em torno das práticas de cultivo de macroalgas e seu impacto em ambientes costeiros e, assim, a prudência de ambientalistas ressoa em contraponto à pressão industrial para expansão em larga escala. Há, ainda, a lacuna legal, refletida na falta de normativas específicas que regulem a maricultura regenerativa e os novos produtos consumidores originados de materiais marinhos.
Apesar das dificuldades regulatórias, como na lei sobre fertilizantes que ainda não contempla bioestimulantes à base de algas, há experimentações promissoras, tais como as iniciativas ‘Wind+Weed’ ou ‘Wave+Weed’, que combinam a colheita de algas com a geração de energia renovável.
O grande desafio para a sustentabilidade da bioeconomia azul europeia não é apenas ambiental mas também industrial, já que se faz necessário um equilíbrio entre o crescimento econômico e a conservação ambiental, numa indústria onde a transparência e a confiança do consumidor são cada vez mais valorizadas em meio a escândalos de ‘greenwashing’.
Fonte: https://worldbiomarketinsights.com/can-europes-blue-bioeconomy-live-up-to-its-promises/