Em um cenário onde cerca de 75% do resíduo têxtil global é descartado em aterros e menos de 1% reciclado em novas peças de vestuário, pesquisadores da Universidade de Milano-Bicocca, sob a direção de Paola Branduardi, exploraram uma metodologia para a valorização da biomassa residual da indústria de confecção. O objetivo é a produção de ácido láctico, matéria-prima amplamente aplicada na indústria e importante no contexto da bioeconomia circular.
O estudo utilizou resíduos de algodão pós-industrial e aplicou uma série de tratamentos químico-mecânicos para fragmentar e tratar o material visando maior acessibilidade enzimática. Um destaque foi o uso de águas residuais alcalinas derivadas da própria indústria na etapa de tratamento, representando uma abordagem inovadora para a redução de impactos ambientais e custos operacionais do processo.
Este estudo pioneiro na utilização de resíduos reais da indústria têxtil abre caminho para novas perspectivas na sua aplicação a uma escala industrial. A mira agora está em outras fábricas celulares microbianas e na produção de uma variedade de produtos químicos valiosos, se atentando à aplicabilidade desses resultados em outros contextos da indústria têxtil.
A implantação da bioconversão de resíduos têxteis em ácido láctico representa, portanto, uma via sustentável e promissora, agregando valor e diminuindo o descarte desnecessário. Contudo, desafios tecnológicos, econômicos e escaláveis devem ser enfrentados, demandando investimento em pesquisa para otimização dos processos e integração às estruturas industriais já existentes.
Embora os avanços sejam notáveis, a pesquisa chama atenção para a necessidade de analisar cuidadosamente custos de produção, valor de mercado e viabilidade econômica nesse contexto, apontando a bioconversão como potencialmente lucrativa, mas pendente de soluções inovadoras para os desafios enfrentados.
Fonte: M. Simonetti et al., “Valorisation of cotton post-industrial textile waste into lactic acid: chemo-mechanical pretreatment, separate hydrolysis and fermentation using engineered yeast”, Microbial Cell Factories, vol. 23, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.1186/s12934-024-02384-
