Compostos orgânicos como os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAHs) estão entre os contaminantes ambientais mais tóxicos e persistentes, com potencial carcinogênico amplamente documentado. Presentes em solos de regiões industriais, áreas agrícolas irrigadas com efluentes e até mesmo em ambientes remotos, os PAHs representam um sério desafio à remediação ambiental. Um estudo recém-publicado pela Royal Society of Chemistry oferece uma revisão detalhada das abordagens de remediação sustentáveis, com destaque para a rizorremediação — um processo em que plantas e microrganismos atuam em conjunto para degradar esses compostos tóxicos.
Os autores destacam que, embora métodos físicos e químicos sejam aplicados na remediação de PAHs no solo, tais abordagens frequentemente geram subprodutos tóxicos ou exigem altas quantidades de energia. Em contraste, a rizorremediação explora os exsudatos radiculares das plantas, que alimentam comunidades microbianas específicas capazes de metabolizar PAHs. Essa simbiose permite uma degradação mais eficiente e sustentável, integrando-se aos princípios da bioeconomia circular.
Segundo o artigo, a eficácia da rizorremediação depende diretamente da interação entre planta e microrganismo. Espécies vegetais com sistemas radiculares extensos aumentam a área de atuação dos microrganismos, acelerando a degradação dos contaminantes. Por sua vez, bactérias do solo, como Pseudomonas, Mycobacterium e Sphingomonas, produzem enzimas como dioxygenases que promovem a quebra dos anéis aromáticos complexos dos PAHs, convertendo-os em produtos menos tóxicos.
Os dados indicam que taxas de degradação superiores a 90% foram alcançadas em condições específicas, como no uso conjunto de Festuca arundinacea e consórcios bacterianos especializados. Contudo, os pesquisadores alertam que a maioria dos estudos permanece confinada a ambientes controlados de laboratório ou estufas, havendo necessidade urgente de ampliação para ensaios de campo em larga escala que avaliem a viabilidade técnica e econômica da técnica.
Um componente-chave para aprimorar a rizorremediação é a aplicação de ferramentas ômicas — como metagenômica, metatranscriptômica e metabolômica — para analisar genes ativos na degradação, o metabolismo microbiano e os mecanismos bioquímicos envolvidos. Tais avanços científicos tornam possível o desenvolvimento de estratégias como a bioengenharia da rizosfera, com a introdução de microrganismos geneticamente aprimorados para aumentar a eficiência da biorremediação.
Apesar da crescente base de conhecimento, há limitações que precisam ser enfrentadas: fatores como pH do solo, teor de matéria orgânica, presença de metais pesados e temperatura influenciam diretamente a atividade microbiana e a biodisponibilidade dos PAHs. O artigo aponta, por exemplo, que a remoção de PAHs cai significativamente em condições de pH ácido ou em solos compactados com baixa porosidade.
No mercado global, observa-se um aumento significativo de investimentos em tecnologias de biorremediação. Apenas o setor de rizorremediação representava mais de 32% da receita global de fitorremediação em 2022. A crescente emissão de patentes — com destaque para Estados Unidos, China e Japão — também sinaliza o interesse do setor privado e dos governos em consolidar soluções baseadas na natureza para desafios ambientais complexos.
Em termos de desdobramentos, o texto defende a necessidade de políticas públicas que incentivem a comercialização da rizorremediação, especialmente por meio da integração com programas de restauração ecológica e agricultura regenerativa. Além disso, o uso da biomassa gerada nesse processo como insumo para a produção de biochar ou outros bioinsumos é sugerido como forma de integrar a tecnologia à lógica da economia circular e ampliar seus benefícios econômicos e ambientais.
Em conclusão, a rizorremediação se consolida como uma via promissora não apenas pela sua eficácia técnica na remoção de PAHs, mas também por sua contribuição para a restauração da qualidade do solo, aumento da biodiversidade microbiana e promoção de sistemas agrícolas mais resilientes. O desafio agora está em transformar esse conhecimento técnico em aplicações escaláveis, sustentáveis e economicamente viáveis.
