A compreensão da dinâmica oceânica avançou significativamente nos últimos tempos e, com ela, a ciência da previsão ecológica, essencial para o manejo sustentável dos recursos marinhos. Um estudo recente destaca a habilidade de transição de ferramentas de gestão atuais para configuração de previsão, oferecendo visões ecológicas preditivas com até 12 meses de antecedência. Tal avanço permite a preparação proativa para eventos extremos de clima e seus impactos na interação humano-vida selvagem.
O estudo se concentrou em duas ferramentas de gestão marinha: o Habitat Compression Index (HCI), que avalia o risco de emaranhamento de baleias em artes de pesca fixas; e o Temperature Observations to Avoid Loggerheads (TOTAL), visando à redução da captura acidental de tartarugas loggerhead por redes. Ambas as ferramentas utilizam anomalias da temperatura da superfície do mar no ecossistema da Corrente da Califórnia, onde é possível fazer previsões habilidosas de SST (Sea Surface Temperature) por vários meses.
De interesse particular é o potencial dessas ferramentas para anteceder interações humanas prejudiciais causadas por condições climáticas sem precedentes. Utilizando-se das condições de SST, o estudo revelou a possibilidade de se ter um aviso prévio de 0,5 a 11,5 meses para eventos como alta compressão do habitat – associado com alto risco de emaranhamento de baleias – e períodos potenciais de fechamento de pescarias devido ao risco de captura de tartarugas. Essas previsões foram precisamente validadas durante períodos de aquecimento marinho históricos, como observado de 2014 a 2016.
A pesquisa também abordou a ideia comum de que previsões regionais oceânicas de alta resolução são necessárias para o desenvolvimento de aplicações de previsão marinha. No entanto, descobriu-se que as previsões globais, apesar de sua resolução mais grosseira, podem ser igualmente úteis, especialmente quando contam com um maior número de membros no conjunto de previsões (ensemble).
No diálogo entre previsões globais e regionais, o estudo aponta que a maior quantidade de membros no ensemble global supera as melhorias trazidas pelo detalhamento regional. Isso sugere, portanto, que um maior número de membros no ensemble pode compensar a menor habilidade individual de previsão ao capturar uma variabilidade ambiental mais abrangente. Assim, destaca-se a importância de disponibilizar ferramentas de previsão ecológica operacionais globais que sejam de fácil acesso e possuam a capacidade de apoiar na gestão de recursos marinhos e na adaptação ao clima globalmente.
O impacto de extremos climáticos, somado às mudanças climáticas de longo prazo, cria condições ambientais sem precedentes. Diante desse cenário, o desenvolvimento de ferramentas que forneçam informações sazonais a anuais sobre condições futuras do oceano torna-se de extrema necessidade. O estudo demonstrou que ferramentas de gestão marinha, quando configuradas para previsão, têm a competência para antecipar com habilidade eventos extremos, contribuindo para uma gestão proativa e não reativa. Diante disso, abre-se o caminho para uma abordagem de gestão baseada no ecossistema mais alinhada com o contexto de intensificação dos impactos climáticos.
Mundialmente, há uma crescente necessidade de prover informações proativas para conservação e manejo de recursos, frente à crescente incerteza sobre o futuro acarretado pelas mudanças climáticas. Assim, o estudo corrobora o potencial significativo em adaptar ferramentas regionais operacionais para previsões, confiando em previsões globais operacionais de acesso aberto. Em essência, esses avanços marcam um passo significativo para melhorar o manejo de recursos marinhos e a adaptação climática em uma escala global.
Fonte: Brodie, S. et al. Ecological forecasts for marine resource management during climate extremes. Nat Commun 14, 7701 (2023). doi:10.1038/s41467-023-43188-0.