Um levantamento detalhado foi divulgado, desvendando a malha de responsabilidades pelo desmatamento no Brasil ao longo dos últimos 25 anos. A pesquisa realizada pelo Observatório do Agronegócio no Brasil apresenta um panorama detalhado dos maiores multados na categoria flora pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama), referência na fiscalização ambiental do país.
A extensa base de dados, compreendendo nada menos que 284.235 multas emitidas entre 1995 e 2020, encontrava-se dispersa no portal oficial do Ibama e agora está reorganizada numa plataforma interativa e didática. O mapa criado permite ao usuário visualizar – de Oiapoque a Uruguaiana – os maiores autuados, seja por ano ou por município, identificando os grandes infratores ambientais brasileiros.
Esse trabalho minucioso revelou um grupo restrito, composto por 487 pessoas físicas e jurídicas que acumularam multas superiores a R$ 10 milhões. Entre estes, outros 466 brasileiros ou empresas amargaram punições que ultrapassam o patamar de R$ 5 milhões. A transgressão ao meio ambiente não se limita a perfis desconhecidos; pelo contrário, a lista inclui desde empresas expressivas do agronegócio e bandeiras multinacionais até figuras públicas como políticos, artistas e outras personalidades influentes no Brasil.
A pesquisa evidencia o perfil desses infratores: dos 25 maiores multados, impressiona que 24 sejam reincidentes. Tal fato desvela que não se trata de infrações isoladas, mas sim de um padrão recorrente de desrespeito às leis ambientais. O predomínio de multas na Amazônia aponta para a acuidade com que essa região enfrenta a problemática do desmatamento. Inclusive, casos excepcionais como o de um governador da Amazônia Legal, proprietário de uma empresa entre os grandes autuados, foram abordados em outras reportagens.
O levantamento não apenas organiza com clareza as informações como as torna acessíveis para jornalistas, pesquisadores e o público em geral, contribuindo para a transparência e fortalecendo o debate público. Não obstante, a condição de multado não se equipara a uma condenação judicial, e os detalhes administrativos ou jurídicos referentes a cada autuação requerem investigação mais aprofundada.
Em suma, a plataforma emerge como uma ferramenta essencial para monitorar o registro de infrações ambientais no país, delineando assim um painel crítico dos desafios que a nação tem pela frente. Para a bioeconomia, os dados são cruciais, servindo de base para políticas públicas e estratégias de conservação mais efetivas, buscando assim estabelecer um desenvolvimento sustentável e responsável.
O projeto foi iniciado em 2017 e resultou do trabalho colaborativo de jornalistas, pesquisadores e designers, com aporte de entidades comprometidas com a causa ambiental, realçando a relevância de financiamentos focalizados em iniciativas de pesquisa e comunicação.