Potencial da bioeconomia na África do Sul: desafios e oportunidades

A África do Sul possui um potencial imenso para a bioeconomia, dadas suas riquezas naturais e biodiversidade. O setor agrícola, que representa cerca de 12% do PIB do país, oferece uma grande quantidade de matéria-prima para ser transformada em produtos biobaseados. No entanto, o país ainda luta para converter esses recursos em indústrias biobaseadas de maior valor, apesar do compromisso político expresso na Estratégia de Bioeconomia, divulgada em 2013.

O governo sul-africano, liderado pelo ANC desde 1994, sempre teve ambições para uma bioeconomia de alto valor. A Estratégia de Bioeconomia de 2013 evidenciou essa meta, apontando a necessidade de transformar materiais biológicos em produtos complexos e altamente processados, cujo valor de mercado seja superior aos das commodities agrícolas básicas. Embora estratégicas, essas aspirações eram amplas e abrangiam desde biocombustíveis até biotecnologias industriais menos comercializadas, além da bioprospecção para a indústria farmacêutica.

A Estratégia Nacional de Economia da Biodiversidade, atualizada em 2024, também é um pilar dessa caminhada. Essa estratégia visa gerar receitas a partir da biodiversidade enquanto preserva os ecossistemas, garantindo que a renda retorne aos sul-africanos. O presidente Cyril Ramaphosa destacou, no Biodiversity Economy and Investment Indaba de março de 2024, a importância de produtos como aloe ferox, sceletium, marula, pelargonium e buchu, cultivados há milênios por comunidades locais. Para Ramaphosa, a chave é passar da coleta para o cultivo em massa sustentável, elevando essas indústrias ao mercado internacional e impulsionando o desenvolvimento econômico do país.

Iniciativas como as das startups De Novo Dairy e Sawubona Mycelium exemplificam esse esforço. A De Novo Dairy, com sua metodologia de fermentação para produzir proteínas de leite sem a necessidade de vacas, e a Sawubona Mycelium, que usa estruturas de fungos para produzir ingredientes cosméticos, farmacêuticos e alimentares, simbolizam a aspiração por uma economia biobaseada de maior valor.

No entanto, esses exemplos ainda são exceções. A bioeconomia sul-africana é dominada por indústrias de baixo valor, como a digestão anaeróbica e o tratamento de resíduos, que têm recebido mais apoio governamental. Essas tecnologias requerem menos investimento e complexidade, além de serem essenciais para a limpeza ambiental e complementarem a renda dos agricultores. Em 2018, havia mais de 700 instalações de biodigestores no país, processando resíduos da agropecuária e gerando biogás e digestato, um condicionador de solo.

Entre as indústrias de alto e baixo valor, há um potencial a ser explorado no uso de resíduos agrícolas para a produção de produtos químicos industriais. A Brenn-o-kem, por exemplo, líder nacional que, desde 1968, transforma resíduos da vinicultura em produtos como tartarato de cálcio e óleo de semente de uva. A abundância de resíduos, como o bagaço de cana-de-açúcar, também pode ser convertida em bioetanol e outros compostos químicos de alto valor.

Esses avanços, porém, enfrentam o desafio contínuo de investimento. A biorefinaria, que pode transformar a biomassa em produtos intermediários ou finais, é vital. No entanto, a demanda por investimento elevado e os longos tempos de startup tornam essa opção inacessível para muitos. Pequenas biorefinarias em áreas rurais podem ser uma solução inicial viável.

Para que a bioeconomia sul-africana prospere, é essencial que o governo resolva problemas estruturais, como a falta de energia confiável, que impede o investimento e o crescimento econômico. As falhas na infraestrutura civil e a necessidade de investimentos estatais em setores estratégicos são desafios que apontam para a importância de parcerias internacionais e transferência de tecnologias de economias biobaseadas avançadas. A bioeconomia, vinculada ao desenvolvimento sustentável, oferece uma oportunidade única para mitigar as mudanças climáticas e promover o crescimento econômico, desde que sejam superados esses obstáculos estruturais.


Fonte: https://worldbiomarketinsights.com/where-next-for-south-africas-bioeconomy/

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