Nos últimos anos, a bioeconomia no Brasil se destacou como um novo paradigma de desenvolvimento econômico, integrando o uso sustentável da biodiversidade para gerar riqueza com justiça social e respeito aos povos tradicionais. Para viabilizar esse modelo, é imperativo mobilizar crescentemente recursos públicos e privados. Um novo relatório da Climate Policy Initiative (CPI) e da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO) revela uma análise detalhada dos fluxos financeiros destinados à bioeconomia no Brasil entre 2021 e 2023.
Os dados demonstram que, em média, os investimentos anuais atingiram 3,213 bilhões de dólares. Os setores de florestas plantadas e de bioenergia e biocombustíveis foram os principais beneficiários, recebendo 74% do montante total. Empresas como a Suzano, atuando com florestas de eucalipto, lideraram os investimentos. Instrumentos financeiros inovadores como os Créditos de Descarbonização (CBIOs) e bonds temáticos foram fundamentais na captação de recursos, particularmente para esses setores.
No aspecto dos fundos, as fontes privadas domésticas representaram 69% dos investimentos, enquanto 31% provinham de políticas públicas, como crédito rural privado e CBIOs. Interessantemente, apenas 4% dos recursos eram de fundos internacionais, sinalizando um vasto potencial inexplorado para aumentar o financiamento estrangeiro, especialmente para setor de florestas nativas, onde o Brasil recebeu apoio significativo dos governos da Alemanha e Noruega.
É importante destacar que produtos de biodiversidade representaram apenas 9% do financiamento anual, totalizando 280 milhões de dólares. A agricultura familiar recebeu 267 milhões, enquanto 178 milhões foram direcionados a florestas nativas. Esse cenário demonstra que, embora a bioeconomia baseada em produtos da biodiversidade da Amazônia seja crucial para o desenvolvimento sustentável, ela ainda carece de apoio financeiro robusto em comparação com culturas convencionais como soja e milho.
O crédito rural teve um papel relevante na bioeconomia, canalizando 754 milhões de dólares por ano para o setor. No entanto, a proporção destinada a produtos de biodiversidade é ínfima, refletindo uma disparidade entre interesses e investimentos. Ao longo dos anos investigados, produtos como mandioca, cacau, seringueira e açaí representaram mais de 68% do apoio dentro do segmento.
Ao examinar a distribuição regional dos financiamentos, a região Sul destacou-se, recebendo 30% dos recursos destinados aos produtos da biodiversidade, seguida pelo Nordeste com 26% e Sudeste com 21%. A região Norte, apesar de ser um centro crítico para a bioeconomia da biodiversidade, atraiu apenas 12% dos fundos, um desafio significativo dado o potencial ecológico e econômico dessa região.
O relatório da CPI/PUC-RIO indica que o Brasil possui mecanismos promissores, mas a bioeconomia, especialmente no que tange à biodiversidade, ainda necessita de uma melhor distribuição dos recursos financeiros. Há a necessidade de inovação nas estratégias de investimento que integrem de maneira mais eficaz setores atualmente subfinanciados e ampliem o uso de instrumentos inovadores além dos setores tradicionais. A bioeconomia não apenas contribui para uma economia mais justa e resiliente, mas também impulsiona uma transição de baixo carbono, uma tarefa crítica no contexto das mudanças climáticas globais.