Falta de foco em bioeconomia limita impacto das universidades do Alto Solimões

O potencial da bioeconomia na região do Alto Solimões, no Amazonas, esbarra na desconexão entre a atuação das instituições de ensino e as necessidades do ecossistema de inovação regional. Uma análise conduzida por pesquisadores de diferentes universidades do Norte do Brasil revela que, embora iniciativas relevantes estejam em curso, como incubadoras e propostas de parques tecnológicos, a bioeconomia ainda é um tema ausente nos planos estratégicos das instituições públicas de ensino.

O estudo examinou os Planos de Desenvolvimento Institucional (PDIs) da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e Instituto Federal do Amazonas (IFAM), além da atuação de outras entidades locais, como CETAM, SEBRAE e organizações de países fronteiriços, como Colômbia e Peru. A conclusão foi clara: apesar de um esforço generalizado para promover empreendedorismo e inovação, os documentos institucionais não abordam a bioeconomia de forma explícita.

A ausência do tema é reflexo da concentração das ofertas de cursos superiores em licenciaturas. Dos 15 cursos universitários oferecidos nas instituições públicas da região, dez são voltados à formação de professores. Cursos ligados à ciências naturais, agronegócio ou tecnologias aplicadas à bioeconomia são escassos. Isso se reflete também nas linhas dos grupos de pesquisa ativos, com predominância de temas sociais e ambientais, e pouca ênfase em cadeias produtivas, tecnologias ou infraestrutura logística.

Do ponto de vista institucional, o PDI da UFAM traz o vetor de inovação de forma mais estruturada, com metas para incubadoras, proteção intelectual e conexão com centros tecnológicos. É dessa universidade, por exemplo, a iniciativa do PACTAS, Parque Científico e Tecnológico do Alto Solimões, ainda em fase de implementação. Já o IFAM apresenta diretrizes que articulam educação técnica ao desenvolvimento regional, com ações voltadas à extensão tecnológica e à profissionalização de agentes locais. Entretanto, mesmo essas estratégias não conectam o tema da bioeconomia às diretrizes de ensino e pesquisa.

O estudo também chama atenção para o papel estratégico do MAPATI – Centro de Inovação Sociobioeconômica, com ações que dialogam diretamente com a circularidade das cadeias produtivas baseadas na biodiversidade. O centro propõe capacitações e incubação de negócios voltados ao aproveitamento de recursos regionais. No entanto, tais iniciativas carecem da sustentação acadêmica que poderia ser oferecida por uma atuação mais alinhada das universidades locais.

Outro aspecto apontado é a importância de reforçar a cooperação internacional. Instituições colombianas, como o SENA e o Instituto SINCHI, têm potencial para contribuir significativamente com a pesquisa e a inovação na fronteira do Brasil com Peru e Colômbia, mas ainda são pouco integradas às ações dos entes brasileiros.

Os autores recomendam, entre outros pontos, a reformulação dos PDIs com a inserção direta da bioeconomia como eixo estratégico, o fortalecimento de cursos superiores voltados a ciências aplicadas e agroindústria, e a criação de novos grupos de pesquisa voltados às áreas produtivas da bioeconomia. Além disso, sugerem que políticas públicas e financiamento adequados são indispensáveis para consolidar um ecossistema de inovação robusto e conectado com as necessidades locais.

Em resumo, o estudo aponta que existem condições institucionais e sociais favoráveis à construção de uma bioeconomia territorial no Alto Solimões, mas que é preciso integrar melhor as ações acadêmicas, formativas e de pesquisa aos desafios e oportunidades que o contexto amazônico oferece.

Fonte: Influence of educational institutions on the development of the bioeconomy in the innovation ecosystem in the immediate region of Tabatinga-Amazonas

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